sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A intercessão dos Santos

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Perguntas do Internauta
Dom, 24 de Maio de 2009 22:01

Os protestantes dizem: "Enquanto vocês, católicos, pedem aos Santos, nós pedimos diretamente a Deus". Gostaria de saber: como é este processo? Sabemos que Deus é onisciente, tem todo o conhecimento. Bem, quando pedimos aos Santos, eles pedem a Deus, sabendo Deus da nossa necessidade? Como funciona quando pedimos algo aos Santos? Como ocorre essa intercessão dos Santos quando rogamos a eles? (Márcio) 
            Márcio, primeiramente, recomendo a leitura atenta do artigo que escrevi no link “Doutrina Católica”. O artigo chama-se “Então, a Igreja adora os Santos?”. Ali, este tema encontra-se bem explanado.
            É verdade que somente Jesus Cristo salva: “Não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4,11). Ele é o único Mediador entre Deus, nosso Pai, e a humanidade: “Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu em resgate por todos” (1Tm 2,5). Nele nós temos a bênção da graça e da salvação: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a sorte de bênção espirituais, nos céus, em Cristo. É pelo sangue deste que temos a redenção, a remissão dos pecados...” (Ef 1,3.7). Este, é, portanto, um ponto central claríssimo da fé católica: só Cristo salva e somente Cristo intercede por nós junto do Pai. Não há outra mediação fora da mediação do único e absoluto Salvador, Cristo Jesus.
            A primeira coisa importante na questão que foi colocada é compreender bem o que é um Santo. Segundo a Escritura, somente Deus é Santo (cf. 1Sm 2,2; Sl 22,3; Is 6,3). A palavra hebraica “santo” (=kadosh) significa “separado”. Deus é o Outro, o que está para além de tudo, o que é diverso de toda a criação, é aquele que não pode ser confundido com as criaturas, aquele que não pode ser manipulado pelo homem. Deus não está entre as criaturas: ele é o sustento de tudo, é o fundamento de tudo. Porque é Santo, Deus é completamente livre, soberano, glorioso. A Igreja, fiel à Palavra de Deus, afirma, na Oração Eucarística II: “Na verdade, ó Pai, vós sois Santo e fonte de toda a santidade!” Sendo o Filho eterno do Pai, e Deus com o Pai, Jesus Cristo é o Santo de Deus (cf. Mc 1,24; Lc 1,35; At 3,14...). A cada Domingo a Igreja dirige-se, na Missa, ao Senhor Jesus com estas palavras: “Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo na glória de Deus Pai”. Sendo o Santo, ele nos santificou com a sua cruz e ressurreição, pois, ressuscitando, derramou sobre nós o seu Espírito Santo, Espírito de santificação: “Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: «Recebei o Espírito Santo...” (Jo 20,22). Ao sermos batizados, recebemos o Espírito Santo do Cristo ressuscitado, que nos dá uma nova vida: a vida do próprio Deus. É esta vida nova que nos faz “Santos”: “Vós vos lavastes, fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito Santo” (1Cor 6,11). “Nele (em Cristo) ele (o Pai) nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). Assim, aqueles que foram batizados em Cristo receberam a santidade de Cristo porque receberam o Espírito Santo de Cristo, Espírito santificador. Por isso mesmo muitas vezes São Paulo chama todos os cristãos de «Santos» (cf. 1Cor 1,2; 2Cor 1,1; Ef 3,8; Fl 4,21...). No entanto o cristão, sendo santo, ou seja, santificado por Cristo, deve viver como santo. Escrevendo aos Coríntios, o Apóstolo assim se referia aos batizados: “... àqueles que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos...” (1Cor 1,2). Portanto, «santo», para a Igreja, é todo cristão! Contudo, damos o nome de “santo” de um modo todo especial àqueles cristãos, irmãos nossos - canonizados ou não -, que já estão na Glória. Eles foram abertos à graça de Cristo, eles disseram “sim” sem reservas à salvação trazida por Jesus; aceitando completamente Jesus como Salvador, eles não resistiram à ação do Espírito Santo, eles viveram seu Batismo até às últimas conseqüências! O «santo» é um pecador como nós, que lutou para levar Cristo a sério e, procurando ser fiel à graça de Cristo, viveu o Evangelho. Por isso mesmo é apresentado pela Igreja como exemplo para todos nós.
 
            Esclarecido este ponto, vamos à intercessão dos santos. A Escritura nos ensina que todos os batizados foram revestidos de Cristo e, tornando-se uma só coisa com ele, são membros do seu Corpo, que é a Igreja. Ser cristão é estar incorporado, enxertado no Senhor Jesus ressuscitado: “Todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo... pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,27); “Vós sois o corpo de Cristo e sois seus membros, cada um por sua parte” (1Cor 12,27); “Nós somos muitos, mas formamos um só corpo em Cristo” (Rm 12,27). A vida dos bem-aventurados no céu - e também já aqui na terra a vida de cada batizado - é vida em Cristo: “A graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6,23). O cristão é aquele que permanece em Cristo, que vive não mais por si mesmo, mas por Cristo. A seiva, a vida nova da qual vivem os cristãos é o próprio Espírito Santo do Senhor Jesus ressuscitado, recebido no batismo: “Aquele que se une ao Senhor, constitui com ele um só Espírito” (1Cor 6,17); “Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo... e todos bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,13). Aparece assim claramente que os batizados - particularmente os que estão na Glória - são uma só coisa com Cristo, estão em Cristo, foram “con-formados” com Cristo, são membros de Cristo, que é Cabeça de todos. Não há, para aqueles que estão na Glória, outra vida que não a de Cristo e em Cristo!
            Ora, o Espírito de Cristo ressuscitado em nós, fazendo-nos uma só coisa com o Senhor Jesus, suscita em nós os bons sentimentos e as boas obras: tudo de bom que pensamos e fazemos é suscitado pelo Espírito Santo em nós: “É Deus quem opera em vós o querer e o operar” (Fl 2,13). É exatamente porque cremos em Cristo, porque estamos unidos a ele e nele estamos enxertados e incorporados pelo Batismo, que podemos realizar as obras da fé, daquela fé que atua pela caridade (cf. Gl 5,6). Quando rezamos, não somos nós que rezamos: quem ora em nós, quem louva em nós e intercede em nós é o próprio Espírito do Cristo Jesus ressuscitado: “Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis e aquele que perscruta os corações sabe qual é o desejo do Espírito; pois é segundo Deus que ele intercede pelos santos” (Rm 8,26-27). É por isso que, já aqui na terra, pedimos aos nossos irmãos que intercedam por nós. Dizemos uns aos outros: “Fulano, reze por mim!” O próprio Novo Testamento recomenda que rezemos uns pelos outros (cf. 2Cor 1,1; Ef 1,16; 6,19; Fl 1,4; Cl 4,12; 1Ts 1,2; 1Ts 5,25; 1Tm 2,1; Tg 5,16). Pedimos a oração de um irmão batizado porque sabemos que ele ora em Cristo, que esse irmão é uma só coisa com Cristo, já que é membro do seu Corpo e vive do Espírito do Senhor ressuscitado, de modo que já não é ele quem ora, mas é Cristo que ora nele como Mediador único entre nós e Deus.
            Com nossos irmãos que estão na Glória acontece o mesmo. A morte não nos separa do amor de Cristo nem dos irmãos, não rompe a comunhão entre os que estão com o Senhor, no céu, e nós, peregrinos: “Estou convencido de que nem a morte nem a vida... nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,38-39). No Senhor todos vivem e permanecem unidos no amor. Se a morte interrompesse uma tal comunhão em Cristo isso significaria que ela - a morte - seria mais forte que o amor, que a vida e que a vitória do Senhor Jesus. Mas, não! Cristo é mais forte que a morte e o inferno! Desse modo, nossos irmãos que estão com Cristo (cf. Fl 1,23) na Glória, são plenamente membros do Corpo do Cristo, vivem do Espírito do Cristo ressuscitado e participam da única mediação de Cristo! É Cristo quem intercede neles, de modo que a intercessão dos Santos, amigos de Cristo, nada mais é que uma admirável manifestação do poder e da fecundidade da única mediação do Senhor Jesus. Ele é o único Mediador, que inclui na sua mediação única todos os que são uma só coisa com ele por serem membros do seu Corpo. A mediação do Senhor Jesus não é mesquinha: é única, mas não é exclusivista: ela inclui todos nós: não é exclusiva, mas inclusiva! Caso contrário, nem nós, que vivemos ainda neste mundo, poderíamos rezar uns pelos outros, já que isso é também uma forma de mediação.
            Assim, é em Cristo, como seus membros, no seu Espírito, que os Santos intercedem ao Pai. A intercessão dos Santos nada mais é que uma manifestação da única intercessão do Senhor Jesus, que, sendo rico e potente, suscita em nós a capacidade de participar da sua única mediação. Os nossos irmãos na Glória são aquela nuvem de testemunhas de que fala a Epístola aos Hebreus: “Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo o fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, com os olhos fixos nAquele que é o Autor e Realizador da fé, Jesus” (Hb 12,1-2). São eles que, a exemplo dos primeiros santos mártires, participando da mediação única do Senhor Jesus, e nessa única mediação, suplicam em nosso favor, como membros de Cristo: “Vi sob o Altar as vidas dos que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que dela tinham prestado. E eles clamaram em alta voz: ‘Até quando, ó Senhor Santo e Verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?’” (Ap 6,10)

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