sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Catequese sobre a Igreja - VIII

Catequese sobre a Igreja - VIII PDF Imprimir E-mail
Bento XVI
Seg, 18 de Maio de 2009 22:24

Queridos irmãos e irmãs:  
            Na nova série de catequeses, tratamos de compreender antes de tudo o que é a Igreja, qual é a idéia do Senhor sobre essa nova família. Depois, dissemos que a Igreja existe nas pessoas. E vimos que o Senhor confiou essa nova realidade, a Igreja, aos doze apóstolos. Agora queremos contemplá-los, um a um, para compreender através destas pessoas, em que consiste viver a Igreja, o que significa seguir Jesus. Comecemos com São Pedro. 
            Depois de Jesus, Pedro é o personagem mais conhecido e citado no Novo Testamento: é mencionado 154 vezes com o sobrenome de «Pétros», «pedra», «rocha», que é a tradução grega do nome aramaico que lhe deu diretamente Jesus, «Kefa», testemunhado em nove ocasiões, sobretudo nas cartas de Paulo. É preciso acrescentar também o nome de Simão, usado freqüentemente (75 vezes), que é a forma adaptada ao grego de seu nome hebraico original, Simeão (duas vezes: At 15,14; 2Pd 1,1). 
            Filho de João (cf. Jo 1,42) ou, na forma aramaica, «bar-Jona», filho de Jonas (cf. Mt 16,17), Simão era de Betsaida, (Jo 1,44), localidade que se encontrava ao oriente do mar da Galiléia, da qual vinha também Felipe e, claro está, André, irmão de Simão. Ao falar, tinha sotaque galileu. Como seu irmão, era pescador: com a família de Zebedeu, pai de Tiago e João, dirigia uma pequena empresa de pesca no lago de Genesaré (cf. Lc 5,10). Por esse motivo, devia desfrutar de um certo conforto econômico e estava animado por um sincero interesse religioso, por um desejo de Deus – desejava que Deus interviesse no mundo –, um desejo que o levou a dirigir-se com seu irmão até a Judéia para seguir a pregação de João Batista (Jo 1,35-42). 
            Ele era um judeu crente e observante, confiado na presença ativa de Deus na história de seu povo, e lhe doía não ver a ação poderosa nas vicissitudes das quais nesse momento era testemunha. Estava casado, e sua sogra, curada um dia por Jesus, vivia na cidade de Cafarnaum, na casa em que também se hospedava Simão, quando se encontrava nessa cidade (cf. Mt 8,14s; Mc 1,29ss; Lc 4,38s). Recentes escavações arqueológicas permitiram trazer à luz, sob o solo de mosaico em forma octogonal de uma pequena Igreja bizantina, os restos de uma igreja mais antiga, edificada nessa casa, como testemunham escritas na cerâmica com invocações a Pedro. Os Evangelhos dizem-nos que Pedro encontra-se entre os primeiros quatro discípulos do Nazareno (cf. Lc 5,1-11), a quem se une o quinto, segundo o costume de todo Rabi de ter cinco discípulos (cf. Lc 5,27; o chamado de Levi). Quando Jesus passa de cinco a doze discípulos (cf. Lc 9,1-6), ficará clara a novidade de sua missão: não é um dos muitos rabinos, mas que veio para reunir ao Israel escatológico, simbolizado pelo número doze, o das tribos de Israel.  
            Nos Evangelhos, Simão apresenta um caráter decidido e impulsivo. Está disposto a fazer prevalecer suas razões, inclusive com a força (usou a espada no Horto das Oliveiras – cf. Jo 18,10s). Ao mesmo tempo, às vezes, é também ingênuo e temeroso, assim como honesto, até chegar ao arrependimento mais sincero (cf. Mt 26,75). Os Evangelhos permitem seguir passo a passo seu itinerário espiritual. O ponto de início é o chamado por parte de Jesus. Aconteceu em um dia como qualquer outro, enquanto Pedro o cerca para escutá-lo. O número dos que o ouviam gerava certas dificuldades. O mestre vê duas barcas amarradas à margem. Os pescadores desceram delas e estão levando as redes. Ele lhes pede poder subir a uma barca, a de Simão, e lhe pede que se afaste um pouco da terra. Sentado nessa cátedra improvisada, ensina desde a barca à multidão (cf. Lc 5,1-3). Desse modo, a barca de Pedro converte-se na cátedra de Jesus. Quando terminou de falar, diz a Simão: «Rema mar adentro, e lançai vossas redes para a pesca». Simão responde: «Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pescamos nada; mas, em teu nome, lançarei as redes» (Lc 5,4-5). Jesus, que era um carpinteiro, não era um especialista em pesca e, contudo, Simão, o pescador, fia-se desse Rabi, que não lhe dá respostas, mas o convida a confiar. Sua reação ante a pesca milagrosa é de assombro e estremecimento: «Afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador» (Lc 5,8). Jesus responde convidando-o a ter confiança e a abrir-se a um projeto que supera toda expectativa: «Não temas. Desde agora serás pescador de homens» (Lc 5,10). Pedro não podia sequer imaginar que um dia chegaria a Roma e que aqui seria «pescador de homens» para o Senhor. Aceita esse chamado surpreendente a deixar-se envolver nessa grande aventura; é generoso, reconhece seus limites, mas crê em quem o chama e segue o sonho de seu coração. Diz «sim», um «sim» valente e generoso, e se converte em discípulo de Jesus.  
            Pedro viverá outro momento significativo em seu caminho espiritual, nas imediações de Cesaréia de Filipe, quando Jesus propõe aos discípulos uma pergunta concreta: «Quem dizem os homens que sou eu?» (Mc 8,27). Para Jesus, não basta uma resposta por ouvir dizer. De quem aceitou comprometer-se pessoalmente com Ele, quer uma tomada de posição pessoal. Por isso, insiste: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Mc 8,29). É Pedro quem responde também por conta dos demais: «Tu és o Cristo» (ibidem), ou seja, o Messias. Esta resposta, que não foi revelada nem «pela carne nem pelo sangue» dele, mas que foi oferecida pelo Pai que está nos céus (cf. Mt 16,17), contém a semente da futura confissão de fé da Igreja. Contudo, Pedro não havia compreendido ainda o conteúdo profundo da missão messiânica de Jesus, o novo sentido da palavra: Messias. Demonstra-o pouco a pouco, dando a entender que o Messias a quem está seguindo em seus sonhos é muito diferente ao autêntico projeto de Deus. Ante o anúncio da paixão, ele se escandaliza e protesta, suscitando a forte reação de Jesus (cf. Mc 8,32-33). Pedro quer um Messias «homem divino», que responda às expectativas das pessoas, impondo a todos sua potência: nós também desejamos que o Senhor imponha sua potência e transforme imediatamente o mundo; Jesus apresenta-se como o «Deus humano», o servo de Deus, que transtorna as expectativas da multidão, abraçando um caminho de humildade e de sofrimento. É a grande alternativa, que também nós temos que voltar a aprender: privilegiar as próprias expectativas rejeitando Jesus, ou acolher Jesus na verdade de sua missão e deixar as expectativas muito humanas. Pedro, que é impulsivo, não duvida em tomá-lo à parte e repreendê-lo. A resposta de Jesus derruba todas as falsas expectativas, chamando-o à conversão e ao seu seguimento: «Afasta-te de mim, Satanás! Porque teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens» (Mc 8,33). Não me indiques tu o caminho, eu sigo meu caminho e tu, coloca-te após mim.  
            Desse modo, Pedro aprende o que significa verdadeiramente seguir Jesus. É o segundo chamado, como o de Abraão em Gênesis, capítulo 22, depois do de Gênesis capítulo 12. «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque quem quer salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perde sua vida por mim e pelo Evangelho, salvá-la-á» (Mc 8,34-35). É a lei exigente do seguimento: é necessário saber renunciar, se é preciso, ao mundo todo para salvar os verdadeiros valores, para salvar a alma, para salvar a presença de Deus no mundo (cf. Mc 8,36-37). Ainda que lhe tenha custado, Pedro acolhe o convite a continuar seu caminho seguindo os passos do Mestre.  
            Parece-me que essas diferentes conversões de São Pedro e toda sua figura são motivo de grande consolo e um grande ensinamento para nós. Também nós temos o desejo de Deus, também queremos ser generosos, mas também nós esperamos que Deus seja forte no mundo e transforme imediatamente o mundo, segundo nossas idéias, segundo as necessidades que vemos. Deus opta por outro caminho. Deus escolhe o caminho da transformação dos corações no sofrimento e na humildade. E nós, como Pedro, sempre temos que converter-nos de novo. Temos que seguir Jesus e não precedê-lo: Ele nos mostra o caminho. Pedro nos diz: tu pensas que tens a receita e que tens que transformar o cristianismo, mas quem conhece o caminho é o Senhor. É o Senhor quem me diz, quem te diz: «Segue-me!». E temos que ter a valentia e a humildade para seguir Jesus, pois Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.2009-05-18

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