sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Catequese sobre a Igreja - II

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Bento XVI
Seg, 18 de Maio de 2009 22:27
 
Caros Irmãos e irmãs, 
            A Carta aos Efésios apresenta a Igreja como um edifício construído «sobre a base dos apóstolos e profetas, sendo a pedra angular o próprio Cristo» (2,20). No Apocalipse, o papel dos apóstolos, e mais especificamente o dos Doze, é esclarecido com a perspectiva escatológica da Jerusalém celeste, apresentada como uma cidade cuja muralha «assenta-se sobre doze pedras, que levam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro» (21,14). Os Evangelhos coincidem em narrar que o chamado aos apóstolos marcou os primeiros passos do ministério de Jesus, após o batismo recebido pelo Batista nas águas do Jordão.  
            Segundo a narração de Marcos (1,16-20) e de Mateus (4,18-22), o cenário do chamado aos primeiros apóstolos é o lago da Galiléia. Jesus acaba de começar a pregação do Reino de Deus, quando seu olhar dirige-se a dois pares de irmãos: Simão e André, São Tiago e João. São pescadores, dedicados a seu trabalho cotidiano. Lançam as redes, reparam-nas. Mas lhes espera outra pesca. Jesus os chama com decisão e eles o seguem com prontidão: a partir de agora serão «pescadores de homens» (cf. Mc 1,17; Mt 4,19). Lucas, apesar de seguir a mesma tradição, oferece uma narração mais elaborada (5,1-11). Mostra o caminho de fé dos primeiros discípulos, precisando que o convite ao seguimento lhes chega depois de ter escutado a primeira pregação de Jesus, e depois de ter experimentado seus primeiros sinais prodigiosos. Em particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e oferece o símbolo da missão de pescadores de homens que se lhes confio. O destino destes «chamados», a partir de agora, ficará intimamente ligado ao de Jesus. O apóstolo é um enviado, mas antes ainda é um «especialista» em Jesus. 
            Este aspecto é sublinhado pelo evangelista João com os futuros apóstolos. Aqui o cenário é diferente. O encontro acontece nas margens do Jordão. A presença dos futuros discípulos, que como Jesus vieram da Galiléia para viver a experiência do batismo administrado por João, ilumina seu mundo espiritual. Eram homens em espera do Reino de Deus, desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda era anunciada como algo eminente. É-lhes suficiente que João Batista assinale Jesus como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,36), para que surja neles o desejo de um encontro pessoal com o Mestre. O diálogo de Jesus com seus primeiros dois futuros apóstolos é muito expressivo. À pergunta: «Que buscais?», respondem com outra pergunta: «Rabbi - que quer dizer “Mestre” - onde moras?». A resposta de Jesus é um convite «Vinde e vede» (cf. Jo 1,38-39). Vinde para poder ver. A aventura dos apóstolos começa assim, como um encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Para os discípulos começa um conhecimento direto do Mestre. Eles vêem onde vive e começam a conhecê-lo. Não terão de ser arautos de uma idéia, mas testemunhas de uma pessoa. Antes de ser enviados a evangelizar, terão de «estar» com Jesus (cf. Marcos 3,14), estabelecendo com ele uma relação pessoal. Com este fundamento, a evangelização não é mais que um anúncio do que se experimentou e um convite a entrar no mistério da comunhão com Cristo (cf. 1Jo 13).
            A quem serão enviados os apóstolos? No Evangelho, Jesus parece restringir a Israel sua missão: «Não fui enviado mais que às ovelhas perdidas da casa de Israel» (Mt 15,24). Ao mesmo tempo parece circunscrever a missão confiada aos doze: «A estes doze Jesus enviou, depois de dar-lhes estas instruções: «Não tomeis caminho de gentis nem entreis na cidade de samaritanos; dirigi-vos mais às ovelhas perdidas da casa de Israel» (Mt 10,5). Uma certa crítica de inspiração racionalista havia visto nestas expressões a falta de uma consciência universal do Nazareno. Na realidade, têm de ser entendidas à luz de sua relação especial com Israel, comunidade da Aliança, em continuidade com a história da salvação. Segundo a espera messiânica, as promessas divinas, feitas imediatamente a Israel, chegariam a seu cumprimento quando o próprio Deus, através de seu Eleito, reunisse seu povo como faz um pastor com seu rebanho: «Eu virei salvar minhas ovelhas para que não estejam mais expostas ao perigo... Eu suscitarei para pôr-se à frente um só pastor que as apascentará, meu servo Davi: ele as apascentará e será seu pastor. Eu, o Senhor, serei seu Deus, e meu servo Davi será príncipe no meio deles» (Ez 34,22-24). Jesus é o pastor escatológico, que reúne as ovelhas perdidas da casa de Israel e sai em sua busca, pois as conhece e as ama (cf. Lc 15,4-7 e Mt 18,12-14; cf. também a figura do bom pastor em Jo 10,11ss). Através desta «reunião» anuncia-se o Reino de Deus a todos os povos: «Assim eu manifestarei minha glória entre as nações, e todas as nações verão o juízo que vou executar e a mão que porei sobre elas» (Ez 39,21). E Jesus segue precisamente este perfil profético. O primeiro passo é a «reunião» de Israel, para que todos os povos chamados a reunir-se na comunhão com o Senhor possam viver e crer.  
            Deste modo, os doze, chamados a participar da própria missão de Jesus, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, dirigindo-se também antes de tudo às ovelhas perdidas da casa de Israel, ou seja, ao povo da promessa, cuja reunião é sinal de salvação para todos os povos, inicio da universalização da Aliança. Longe de contradizer a abertura universal da ação messiânica do Nazareno, o ter restringido ao início sua missão e a dos doze a Israel é um sinal profético eficaz. Após a paixão e a ressurreição de Cristo, este sinal será esclarecido: o caráter universal da missão dos apóstolos se fará explícito. Cristo enviará os apóstolos «por todo o mundo» (Marcos 16, 15), a «todos os povos» (Mt 28,19; Lc 24,47), «até os confins da terra» (At 1,8). E esta missão continua. Sempre continua o mandamento do Senhor de reunir os povos na unidade de seu amor. Esta é nossa esperança e este é também nosso mandamento: contribuir a essa universalidade, a esta verdadeira unidade na riqueza das culturas, em comunhão com nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo.

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