Catequese sobre a Igreja - X |
Bento XVI |
Seg, 18 de Maio de 2009 22:23 |
Pedro, o Apóstolo
Queridos irmãos e irmãs!
Retomamos
as catequeses semanais que iniciamos nesta primavera. Na última, de
há quinze dias, falei de Pedro como o primeiro dos Apóstolos; hoje,
queremos voltar mais uma vez sobre esta grande e importante figura da
Igreja. O evangelista João, narrando o primeiro encontro de Jesus com
Simão, irmão de André, registra um acontecimento singular: Jesus,
"fixando nele o olhar... disse: "Tu és Simão, o filho de João. Hás de
chamar-te Cefas que significa Pedra"" (Jo 1, 42). Jesus não costumava
mudar o nome aos seus discípulos. Se excluirmos o apelativo de "filhos
do trovão", dirigido numa circunstância precisa aos filhos de Zebedeu
(cf. Mc 3, 17) que não voltou a usar sucessivamente, Ele nunca
atribuiu um novo nome a um discípulo seu. Mas fê-lo com Simão,
chamado-o Cefas, nome que depois foi traduzido em grego Petros, em latim
Petrus. E foi traduzido precisamente porque não era só um nome; era
um "mandato" que Pedro recebia daquele modo do Senhor. O novo nome
Petrus voltará várias vezes nos Evangelhos e terminará por substituir o
nome originário, Simão.
O
facto adquire relevo particular se se considera que, no Antigo
Testamento, a mudança do nome anunciava em geral a designação de uma
missão (cf. Gn 17, 5; 32, 28ss, etc.). De facto, a vontade de Cristo
de atribuir a Pedro um papel especial no âmbito do Colégio apostólico
resulta de numerosos indícios: em Cafarnaum o Mestre é hospedado em
casa de Pedro (Mc 1, 29); quando a multidão se comprime nas margens do
lago de Genesaré, entre as duas barcas ali ancoradas, Jesus escolhe a
de Simão (Lc 5, 3); quando em circunstâncias particulares Jesus se
faz acompanhar só por três discípulos, Pedro é sempre recordado como
primeiro do grupo: assim na ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 9,
2; Mt 17, 1; Lc 9, 28), e por fim durante a agonia no Horto do
Getsémani (cf. Mc 14, 33; Mt 16, 37). E ainda: dirigem-se a Pedro os
cobradores do imposto para o Templo e o Mestre paga para si e somente
para ele (cf. Mt 17, 24-27); a quem lava primeiro os pés é a Pedro
(cf. Jo 13, 6) e reza unicamente por ele para que não lhe venha a
faltar a fé e possa depois confirmar nela os outros discípulos (cf. Lc
22, 30-31).
De
resto, o próprio Pedro tem consciência desta sua posição particular:
com frequência é ele que, em nome também dos outros, toma a palavra
para pedir a explicação de uma parábola difícil (Mt 15, 15), ou o
sentido exacto de um preceito (Mt 18, 21) ou a promessa formal de uma
recompensa (Mt 19, 27). Em particular, é ele quem resolve o embaraço
de determinadas situações intervindo em nome de todos. E também quando
Jesus, desanimado pela incompreensão da multidão depois do discurso
sobre o "pão de vida", pergunta: "Também vós quereis ir embora?", a
resposta de Pedro é peremptória: "Senhor, a quem iremos? Tu tens
palavras de vida eterna" (cf. Jo 6, 67-69). Igualmente decidida é a
profissão de fé que, ainda em nome dos Doze, ele faz perto de Cesareia
de Filipe. A Jesus que pergunta: "Vós quem dizeis que Eu sou?", Pedro
responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16, 15-16). Em
resposta Jesus pronuncia então a declaração solene que define, de uma
vez para sempre, o papel de Pedro na Igreja: "Também Eu te digo: Tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... Dar-te-ei as
chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no
Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu" (Mt 16.
18-19). As três metáforas às quais Jesus recorre são em si muito
claras: Pedro será o fundamento rochoso sobre o qual apoiará o
edifício da Igreja; ele terá as chaves do Reino dos céus para abrir ou
fechar a quem melhor julgar; por fim, ele poderá ligar ou desligar no
sentido que poderá estabelecer ou proibir o que considerar necessário
para a vida da Igreja, que é e permanece Cristo. É sempre Igreja de
Cristo e não de Pedro. Deste modo, é descrito com imagens de plástica
evidência o que a reflexão sucessiva qualificará com a palavra de
"primazia de jurisdição".
Esta
posição de preeminência que Jesus decidiu conferir a Pedro
verifica-se também depois da ressurreição: Jesus encarrega as mulheres
de ir anunciar a Pedro, distintamente dos outros Apóstolos (cf. Mc
16, 7); Madalena vai ter com ele e com João para os informar que a
pedra tinha sido afastada da entrada do sepulcro (cf. Jo 20, 2) e João
dá-lhe a precedência quando chegam diante do túmulo vazio (cf. Jo 20,
4-6); será depois Pedro, entre os Apóstolos, a primeira testemunha de
uma aparição do Ressuscitado (cf. Lc 24, 34; 1 Cor 15, 5). Este seu
papel, realçado com decisão (cf. Jo 20, 3-10), marca a continuidade
entre a preeminência obtida no grupo apostólico e a preeminência que
continuará a ter na comunidade que nasceu depois dos acontecimentos
pascais, como afirma o Livro dos Actos (cf. 1, 15-26; 2, 14-40; 3,
12-26; 4, 8-12; 5, 1-11.29; 8, 14-17; 10; etc.). O seu comportamento é
considerado tão decisivo, que está no centro de observações e também
de críticas (cf. Act 11, 1-18; Gl 2, 11-14). Ao chamado Concílio de
Jerusalém Pedro desempenha uma função directiva (cf. Act 15 3; Gl 2,
1-10), e precisamente por este seu ser como testemunha da fé autêntica
o próprio Paulo reconhecerá nele uma certa qualidade de "primeiro"
(cf. 1 Cor 15, 5; Gl 1, 18; 2, 7s.; etc.). Depois, o facto de que
vários textos-chave relativos a Pedro possam ser relacionados com o
contexto da Última Ceia, na qual Cristo confere a Pedro o ministério
de confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 31s.), mostra como a Igreja que
nasce do memorial pascal celebrado na Eucaristia tenha no ministério
confiado a Pedro um dos seus elementos constitutivos.
Esta contextualização da Primazia de Pedro na Última Ceia, no momento
institutivo da Eucaristia, Páscoa do Senhor, indica também o sentido
último desta Primazia: Pedro deve ser, para todos os tempos, o
guardião da comunhão com Cristo; deve guiar à comunhão com Cristo;
deve preocupar-se por que a rede não se rompa e assim possa perdurar a
comunhão universal. Só juntos podemos estar com Cristo, que é o
Senhor de todos. A responsabilidade de Pedro é garantir assim a
comunhão com Cristo com a caridade de Cristo, conduzindo à realização
desta caridade na vida de todos os dias. Rezemos para que a Primazia
de Pedro, confiada a pobres pessoas humanas, possa ser sempre exercida
neste sentido originário querido pelo Senhor e, assim, possa ser cada
vez mais reconhecida no seu verdadeiro significado pelos irmãos que
ainda não estão em plena comunhão conosco. |
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