Crer e compreender |
Perguntas do Internauta |
Dom, 24 de Maio de 2009 15:59 |
Se
Deus quer a nossa santidade, por que Ele nos fez com "defeito de
fabricação"? O senhor já falou em algumas homilias que ter fé não é
compreender tudo. A fé por si só basta, ou devemos sempre procurar
fundamentá-la? (Sérgio Almeida)
Quanto à primeira questão.
Deus não fez os homens com “defeito de fabricação”. Criou-nos
perfeitos, mas finitos - somos criaturas. Veja um coqueiro anão: é
perfeito, apesar de ser pequeno. O homem foi criado perfeito e
verdadeiramente livre. Sua liberdade é de criatura e, portanto,
limitada, mas real e boa. Criado livre para dizer “sim” a Deus, o
homem disse “não”. Daí começou toda essa corrente de desmantelo do
mundo. A criação, pensada para ser um jardim, foi se transformando
num deserto. Mas, Deus não é o culpado por isso. Somos nós os
culpados! E Deus não poderia dar um jeito? Ele dá, nos falando, dá,
nos atraindo pela graça, dá, nos mostrando o caminho... mas sempre
respeitando a nossa liberdade, a nossa possibilidade real de
dizer-lhe “não”. E por que ele nos dá essa possibilidade terrível?
Porque se não pudéssemos dizer “não”, tampouco teria algum sentido e
valor o nosso “sim”. A nossa liberdade seria apenas um
faz-de-conta...
Quanto à segunda pergunta.
"Crer
não é compreender tudo". A razão humana é importante, mas ela não
consegue apreender toda a realidade. O racionalismo é,
precisamente, esta doença mental: pensar que a razão é a medida de
todas as coisas e que somente é real o que cabe estritamente na
nossa racionalidade. Isso é loucura! O que sabemos sobre a vida, a
morte, o amor, o ódio, o medo, as experiências mais fundamentais da
existência? O que sabemos sobre nós mesmos? A realidade, no seu sentido
mais profundo é um mistério. A fé, que nos aponta para Deus, é a
experiência mais profunda do ser humano. Ela não invalida a razão
nem é contra a razão, mas a ultrapassa, como a flor ultrapassa o
botão. Nós temos o direito e o dever de querer compreender melhor
as coisas da fé, mas sabendo que elas, apesar de não serem contra a
razão, vão sempre ultrapassá-la. Crer é, fundamentalmente,
confiar, abandonar-se nas mãos de um Outro, que me ultrapassa
totalmente. Ainda sem compreender totalmente seu modo de ser e de
agir, eu confio, eu me entrego, eu coloco minha vida em suas mãos. Creio
nele e, por isso, ainda que não compreenda tudo, nele repouso em
paz. E ainda assim, como dizia São Tomás de Aquino, nós não devemos
crer se não tivermos motivos para crer... Ainda que não compreenda
tudo pela razão, devo ter razões para crer...
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