sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Crer e compreender

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Perguntas do Internauta
Dom, 24 de Maio de 2009 15:59


Se Deus quer a nossa santidade, por que Ele nos fez com "defeito de fabricação"? O senhor já falou em algumas homilias que ter fé não é compreender tudo. A fé por si só basta, ou devemos sempre procurar fundamentá-la? (Sérgio Almeida) 
Quanto à primeira questão.
            Deus não fez os homens com “defeito de fabricação”. Criou-nos perfeitos, mas finitos - somos criaturas. Veja um coqueiro anão: é perfeito, apesar de ser pequeno. O homem foi criado perfeito e verdadeiramente livre. Sua liberdade é de criatura e, portanto, limitada, mas real e boa. Criado livre para dizer “sim” a Deus, o homem disse “não”. Daí começou toda essa corrente de desmantelo do mundo. A criação, pensada para ser um jardim, foi se transformando num deserto. Mas, Deus não é o culpado por isso. Somos nós os culpados! E Deus não poderia dar um jeito? Ele dá, nos falando, dá, nos atraindo pela graça, dá, nos mostrando o caminho... mas sempre respeitando a nossa liberdade, a nossa possibilidade real de dizer-lhe “não”. E por que ele nos dá essa possibilidade terrível? Porque se não pudéssemos dizer “não”, tampouco teria algum sentido e valor o nosso “sim”. A nossa liberdade seria apenas um faz-de-conta... 
Quanto à segunda pergunta.
"Crer não é compreender tudo". A razão humana é importante, mas ela não consegue apreender toda a realidade. O racionalismo é, precisamente, esta doença mental: pensar que a razão é a medida de todas as coisas e que somente é real o que cabe estritamente na nossa racionalidade. Isso é loucura! O que sabemos sobre a vida, a morte, o amor, o ódio, o medo, as experiências mais fundamentais da existência? O que sabemos sobre nós mesmos? A realidade, no seu sentido mais profundo é um mistério. A fé, que nos aponta para Deus, é a experiência mais profunda do ser humano. Ela não invalida a razão nem é contra a razão, mas a ultrapassa, como a flor ultrapassa o botão. Nós temos o direito e o dever de querer compreender melhor as coisas da fé, mas sabendo que elas, apesar de não serem contra a razão, vão sempre ultrapassá-la. Crer é, fundamentalmente, confiar, abandonar-se nas mãos de um Outro, que me ultrapassa totalmente. Ainda sem compreender totalmente seu modo de ser e de agir, eu confio, eu me entrego, eu coloco minha vida em suas mãos. Creio nele e, por isso, ainda que não compreenda tudo, nele repouso em paz. E ainda assim, como dizia São Tomás de Aquino, nós não devemos crer se não tivermos motivos para crer... Ainda que não compreenda tudo pela razão, devo ter razões para crer...

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