Catequese sobre a Igreja - XII |
Bento XVI |
Seg, 18 de Maio de 2009 22:22 |
Tiago, o Maior
Prosseguimos
a série de retratos dos Apóstolos escolhidos directamente por Jesus
durante a sua vida terrena. Falámos de São Pedro e de seu irmão,
André. Encontramos hoje a figura de Tiago. Os elencos bíblicos dos
Doze mencionam duas pessoas com este nome: Tiago, filho de Zebedeu, e
Tiago, filho de Alfeu (cf. Mc 3, 17.18; Mt 10, 2-3), que são
comummente distinguidos com os nomes de Tiago, o Maior e Tiago, o
Menor. Sem dúvida, estas designações não querem medir a sua santidade,
mas apenas distinguir o realce que eles recebem nos escritos do Novo
Testamento e, em particular, no quadro da vida terrena de Jesus. Hoje
dedicamos a nossa atenção à primeira destas duas personagens homónimas.
O
nome Tiago é a tradução de Iákobos, forma helenizada do nome do
célebre patriarca Tiago. O apóstolo assim chamado é irmão de João, e
nos elencos acima mencionados ocupa o segundo lugar logo depois de
Pedro, como em Marcos (3, 17), ou o terceiro lugar depois de Pedro e
André no Evangelho de Mateus (10, 2) e de Lucas (6, 14), enquanto que
nos Actos vem depois de Pedro e de João (1, 13). Este Tiago pertence,
juntamente com Pedro e João, ao grupo dos três discípulos
privilegiados que foram admitidos por Jesus em momentos importantes da
sua vida.
Dado
que faz muito calor, gostaria de abreviar e mencionar aqui só duas
destas ocasiões. Ele pôde participar, juntamente com Pedro e Tiago, no
momento da agonia de Jesus no horto do Getsémani e no acontecimento
da Transfiguração de Jesus. Trata-se portanto de situações muito
diversas uma da outra: num caso, Tiago com os outros dois Apóstolos
experimenta a glória do Senhor, vê-o no diálogo com Moisés e Elias, vê
transparecer o esplendor divino de Jesus; no outro encontra-se diante
do sofrimento e da humilhação, vê com os próprios olhos como o Filho
de Deus se humilha tornando-se obediente até à morte. Certamente a
segunda experiência constitui para ele a ocasião de uma maturação na
fé, para corrigir a interpretação unilateral, triunfalista da
primeira: ele teve que entrever que o Messias, esperado pelo povo
judaico como um triunfador, na realidade não era só circundado de
honra e de glória, mas também de sofrimentos e fraqueza. A glória de
Cristo realiza-se precisamente na Cruz, na participação dos nossos
sofrimentos.
Esta
maturação da fé foi realizada pelo Espírito Santo no Pentecostes, de
forma que Tiago, quando chegou o momento do testemunho supremo, não se
retirou. No início dos anos 40 do século I o rei Herodes Agripa, neto
de Herodes o Grande, como nos informa Lucas, "maltratou alguns
membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João" (Act
12, 1-2).
A
notícia tão limitada, privada de qualquer pormenor narrativo, revela,
por um lado, quanto era normal para os cristãos testemunhar o Senhor
com a própria vida e, por outro, como Tiago ocupava uma posição de
relevo na Igreja de Jerusalém, também devido ao papel desempenhado
durante a existência terrena de Jesus. Uma tradição sucessiva, que
remonta pelo menos a Isidoro de Sevilha, narra de uma sua permanência
na Espanha para evangelizar aquela importante região do Império
Romano.
Segundo
outra tradição, ao contrário, o seu corpo teria sido transportado
para a Espanha, para a cidade de Santiago de Compostela. Como todos
sabemos, aquele lugar tornou-se objecto de grande veneração e ainda
hoje é meta de numerosas peregrinações, não só da Europa mas de todo o
mundo. É assim que se explica a representação iconográfica de São
Tiago que tem na mão o cajado do peregrino e o rolo do Evangelho,
típicos do apóstolo itinerante e dedicado ao anúncio da "boa nova",
características da peregrinação da vida cristã.
Portanto,
de São Tiago podemos aprender muitas coisas: a abertura para aceitar a
chamada do Senhor também quando nos pede que deixemos a "barca" das
nossas seguranças humanas, o entusiasmo em segui-lo pelos caminhos que
Ele nos indica além de qualquer presunção ilusória, a disponibilidade
a testemunhá-lo com coragem, se for necessário, até ao sacrifício
supremo da vida. Assim, Tiago o Maior, apresenta-se diante de nós como
exemplo eloquente de adesão generosa a Cristo. Ele, que inicialmente
tinha pedido, através de sua mãe, para se sentar com o irmão ao lado
do Mestre no seu Reino, foi precisamente o primeiro a beber o cálice
da paixão, a partilhar com os Apóstolos o martírio.
E no final, resumindo tudo, podemos dizer que o caminho não só
exterior mas sobretudo interior, do monte da Transfiguração ao monte
da agonia, simboliza toda a peregrinação da vida cristã, entre as
perseguições do mundo e os confortos de Deus, como diz o Concílio
Vaticano II. Seguindo Jesus como São Tiago, sabemos, também nas
dificuldades, que seguimos o caminho justo. |
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