sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O Sacramento da Eucaristia

O Sacramento da Eucaristia – I PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:26
Pe. Henrique Soares da Costa
Vamos, agora, tratar de Eucaristia, o último dos sacramentos da iniciação cristã, o último dos sacramentos que nos inserem na vida do Cristo morto e ressuscitado, fazendo-nos plenamente cristãos. Trata-se do maior e mais sublime de todos os sacramentos, o Sacramento por excelência – o Santíssimo Sacramento!
Como falar deste sacramento é muito complexo, dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vamos seguir o esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. E vamos iniciar precisamente citando Catecismo: O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da cruz, e para confiar, assim, à Igreja, sua amada esposa, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura” (n. 1323). Estas palavras resumem de modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante observar algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na Celebração eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no decorrer dos séculos, até que ele venha, o sacrifício da cruz! Então, a Eucaristia é a Missa! Mas, que significa “missa”? Onde, nas Escrituras Sagradas, se fala nela?
No decorrer da história este sacramento teve vários nomes, cada um deles sublinhando um aspecto deste mistério tão rico.
Primeiramente chamou-se “Eucaristia”, palavra grega que significa, “ação de graças”. O termo aparece muitas vezes o Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de graças que tantas vezes Jesus pronunciou nas suas refeições com os discípulos: “E tomou o pão, deu graças (= eucaristizou), partiu e distribuiu-o entre eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo que é entregue por vós” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o...” (1Cor 11,23s). Na religião dos judeus, a bênção de ação de graças era proclamação das obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel dava graças pelas grandes obras do Senhor em seu favor. Por isso, os cristãos, cumprindo a ordem do Senhor Jesus, celebram a Ação de Graças a Deus pela sua grande obra: ter entregado o seu Filho desde a encarnação até a consumação na cruz, tê-lo ressuscitado dos mortos e o feito assentar-se à sua direita na glória. Assim, celebrar a santa Eucaristia é bendizer e agradecer a Deus por tudo que nos fez pelo seu santo Filho Jesus.
Outro nome dado à Eucaristia, já no novo Testamento, foi “Ceia do Senhor” (cf. 1Cor 11,20), porque este sacramento é a celebração daquela ceia que o Senhor comeu com os seus discípulos na véspera da Páscoa. Por um lado, aquela ceia era já a celebração ritual, em gestos, palavras e símbolos, daquilo que o Senhor iria realizar no dia seguinte: ele se entregaria totalmente na cruz, iria nos dar seu corpo e seu sangue: “Comei: isto é o meu corpo que será entregue na cruz! Bebei: isto é o meu sangue que será derramado por vossa causa!” Por outro lado, esta ceia sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava a ceia das núpcias do Cordeiro, núpcias de Cristo ressuscitado com sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste: “Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia que Jesus celebrou como memorial de sua paixão, morte e ressurreição, mas também já antecipar, já saborear, na força do Espírito Santo, a ceia do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus, será o alimento eterno para sua Esposa, a Igreja. Em outras palavras: é uma ceia que começa na terra e durará no céu, por toda a eternidade!
Mais um nome para este sacramento santíssimo: “Fração do Pão”. É um nome antigo, presente também já no novo Testamento, sobretudo nos Atos dos Apóstolos. Este rito de partir o pão, típico da ceia judaica, foi muitas vezes repetido por Jesus quando abençoava e distribuía o pão (cf. Mt 14,19; 15,36; Mc 8,6.19) e, sobretudo, na Última Ceia, quando ele partiu o pão. Através desse mesmo gesto, os discípulos reconheceram o Senhor ressuscitado: eles o reconheceram ao partir o pão (cf. Lc 24,13-35). Por tudo isso, os primeiros cristãos usavam a expressão “fração do pão” para designar suas reuniões nas quais, na ceia, partiam o pão como Jesus e em memória de Jesus. Deste modo, os primeiros cristãos queriam revelar a consciência que tinham que todo aquele que come o único pão partido, pão da Eucaristia, que´e o próprio Senhor ressuscitado, entre em comunhão com ele e forma com ele um só corpo, que é a Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16s).
Um outro nome, que era caro aos santos doutores da Igreja Antiga, sobretudo os de língua grega, era “Santa Synáxis”, que significa “assembléia”, “reunião”. Isto porque a Eucaristia é para ser celebrada pela Comunidade eclesial presidida pelo ministro ordenado. Onde a Comunidade se reúne para a Eucaristia, aí está a Igreja, povo de Deus reunido no único Espírito Santo, para oferecer o único sacrifício do Filho Jesus para a glória do Pai e salvação do mundo inteiro.
Continuaremos no próximo artigo. Ainda temos muito para ver.
O Sacramento da Eucaristia – II PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:24
Côn. Henrique Soares da Costa
No tópico passado de nossa série sobre a Eucaristia, começamos a ver os vários nomes dados a esse Sacramento e seus significados respectivos. Continuemos ainda.
A Eucaristia é chamada também de “Memorial” da Paixão e Ressurreição do Senhor. Vale a pena compreender bem o sentido da palavra “memorial”. Ela não significa simplesmente recordação ou memória. Nas Escrituras, memorial é dito zikaron e significa tornar presente, por gestos, símbolos e palavras, um fato acontecido no passado uma vez por todas. Por exemplo: uma vez por ano, os judeus celebravam e celebram ainda hoje a Páscoa, memorial da saída do Egito. Pois bem, eles, nessa celebração, não somente recordam a passagem da escravidão para a liberdade, mas tinham e têm a consciência que, participando da celebração, participam realmente da própria libertação que Deus operara. Tanto isso é verdade que, ainda hoje, o pai de família judeu, aquele que preside à celebração, diz assim: “Em toda geração, cada um deve considerar-se como se tivesse pessoalmente saído do Egito, como está escrito: ‘Explicarás então a teu filho: isto é em memória do que o Senhor fez por mim, quando saí do Egito’. Portanto, é nosso dever agradecer, honrar e louvar, glorificar, celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a quem realizou todos esses milagres por nossos pais e para nós mesmos. Ele nos conduziu da escravidão à liberdade, do sofrimento à alegria, da desolação a dias festivos, da escuridão a uma grande claridade e do cativeiro à redenção”. E, depois, acrescenta: “Bendito sejas tu, Adonai, nosso Deus, rei do universo, que nos redimiste, libertaste nossos pais do Egito, e nos permitiste viver esta noite para participar do Cordeiro, do pão ázimo e das ervas amargas”. Ora, é exatamente isso que a Eucaristia é: memorial da Páscoa do Senhor Jesus. Quando nós a celebramos, torna-se presente no nosso hoje, na nossa vida, na nossa situação, tudo quanto Jesus fez por nós, que alcança seu cume na sua morte e ressurreição. Deste modo, a Páscoa do Senhor está sempre presente e atuante na nossa vida e, através de Jesus e com Jesus, podemos dizer ao Pai como os judeus dizem: “é nosso dever agradecer, honrar e louvar, glorificar, celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a ti, Adonai, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!” Então, assim sendo, não é uma idéia muito exata afirmar que a missa é a repetição ou a renovação do sacrifício de Cristo. Não se repete, porque ele foi oferecido uma vez por todas; não se renova, porque não ficou caduco, envelhecido. Em cada missa torna-se presente, atuante, o único sacrifício pascal do Senhor, memorial de sua encarnação, de sua vida humana, de sua paixão, morte e ressurreição, de sua ascensão ao Pai e do dom do Espírito que ele nos fez!
Outra denominação para a Missa é “Santo Sacrifício”. Isto porque, como já dissemos, ela torna presente, “presentifica”, o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício que o Senhor Jesus deu à sua Igreja para que ela o ofereça até que ele venha em sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de sacrifício de louvor, sacrifício espiritual (porque oferecido na força do Espírito Santo), sacrifício puro e santo (porque sacrifício do próprio Cristo Jesus). Este santo sacrifício da Missa leva à plenitude todos os sacrifícios de todas as religiões e, particularmente, aqueles do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras da profecia de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito ao seu nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o meu nome será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao meu nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (1,11). Cristo, com seu sacrifício único e irrepetível, que entregou à sua Igreja para celebrá-lo até que ele venha, ofereceu este sacrifício, cumprindo a profecia.
Ainda um outro nome para a Missa: “Santa e Divina Liturgia”. São os católicos orientais que gostam mais de denominar assim a Eucaristia. Chamam-na “liturgia” porque toda a liturgia da Igreja (todas as suas celebrações), encontra seu centro, sua fonte, seu cume e sua mais densa expressão na celebração da Eucaristia. É no mesmo sentido que chamamos a Missa de “Santos Mistérios”. “Mistérios”, falando teologicamente, são os sacramentos, são os gestos e palavras pelas quais a salvação chega até nós. Ora, o Mistério da Eucaristia é o canal privilegiado pelo qual entramos em contato com a graça advinda da Páscoa do Cristo Jesus!
“Comunhão” – eis aqui outro nome dado à Eucaristia. Nome belíssimo! É chamada assim porque nela nos unimos a Cristo, que nos faz cada vez mais membros do seu Corpo e, assim, membros uns dos outros – pois o Corpo de Cristo é a Igreja, que somos nós. Comungando no Corpo do Senhor, entramos em comunhão com Cristo e, em Cristo, pleno do Santo Espírito, entramos em comunhão uns com os outros.
Outra expressão, também cara aos nossos irmãos católicos orientais, é “Coisas Santas”. Coisas Santas são o Pão e o Vinho eucarísticos, Corpo e Sangue do Senhor, que cria a Comunhão dos Santos, que é a Igreja. Comungando as Coisas Santas, entramos em comunhão uns com os outros em Cristo, tornamo-nos membros da Comunhão dos Santos, que é a Igreja, e comprometemo-nos a viver tal comunhão na vida de cada dia, como comunhão de vida, pela solidariedade, pela partilha, pelo amor fraterno.
Finalmente, o termo mais popular entre nós: “Missa”. Esta palavra foi adotada na Idade Média e vem do latim “missio” (= missão, envio). Recorda a despedida da Celebração eucarística: “Ite, missa es!t” É este “ide!” que exprime a missão (= a missio) de quem participa da Eucaristia. Celebrar a Páscoa do Senhor exige do cristão a missão de testemunhar e anunciar o Cristo. É como se, ao final da Celebração, fosse-nos dito: agora que vocês participaram do Corpo e do Sangue do Ressuscitado, vão pelo mundo e testemunhem sua vitória. Ele está vivo! Vocês, que comeram e beberam com ele, serão testemunhas disso até os confins da terra!

O Sacramento da Eucaristia – III PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:23
Pe. Henrique Soares da Costa
Já vimos, de modo geral, o que é a Eucaristia. Vimos também os vários nomes que são dados a este Sacramento e seus vários significados. Agora vejamos como ele está presente na Sagrada Escritura.
Já durante o seu ministério público, o Senhor Jesus foi dando indicações daquilo que depois seria este santo Sacramento. Vejamos algumas, mais significativas.
Primeiramente dois sinais particularmente importantes, realizados pelo Senhor: ele transformou água em vinho e multiplicou os pães. Mais ainda: várias vezes comparou o Reino de Deus a um banquete. Sobretudo em Jo 6,51ss, as palavras de Cristo são bem claras: “Eu sou o pão descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo. Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem em ao beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, pois minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que come de mim, viverá por mim”. O texto não permite pensar em metáforas; trata-se, ao invés, de algo real, concreto: o pão e o vinho eucarísticos são, realmente, o corpo e o sangue do Senhor. Por isso mesmo, os evangelhos, quando narram a multiplicação dos pães, usam sempre as mesmas palavras para indicar os gestos de Jesus na Última Ceia: ele tomou o pão, deu graças, partiu e distribuiu (cf. Mt 14,13-21; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13; Mc 8,1-10). A Eucaristia, já preparada pelo Cristo, foi por ele instituída na Última Ceia: aí o Senhor deu à Igreja o mandamento do amor – ele mesmo, que nos amou até o extremo da cruze da sepultura e se colocou como modelo e medida do amor. E para deixar o sacramento, o penhor desse amor mais forte que a morte, instituiu a Eucaristia como memorial de sua morte e ressurreição, de sua entrega amorosa, pascal! Assim, no momento de fazer sua Passagem (= Páscoa) do mundo para o Pai através de sua entrega de amor na cruz, o Cristo Jesus deixou para a sua Igreja o sacramento de sua Páscoa de amor: o sacrifício eucarístico! Cumpriu-se, assim, a Páscoa dos judeus, que era memorial da passagem da escravidão de morte no Egito para uma libertação de vida na Terra Prometida. Jesus deu à Páscoa dos judeus seu significado definitivo: a nova Páscoa, Páscoa de Jesus, foi antecipada na Ceia, é continuamente celebrada na Eucaristia, que leva a cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja, quando passaremos deste mundo para o Pai com Jesus e por causa de Jesus.
É interessante observar já aqui que a instituição da Eucaristia por Cristo dá-se no contexto, no clima, de entrega e sacrifício de sua vida: “É o meu corpo, que será entregue; é o meu sangue, que será derramado”... Finalmente, o Senhor ordena que a Igreja celebre o seu gesto até que ele venha (cf. 1Cor 11,26). Foi isto que a Igreja sempre fez ao celebrar a Eucaristia. O Novo Testamento nos dá muitíssimos exemplos disso. Desde o início, a Igreja foi fiel à Fração do Pão (cf. At 2,42.46). Sobretudo no primeiro dia da semana, aquele dia que o Apocalipse chama já de Dia do Senhor (cf. 1,10), os cristãos se reuniam para partir o pão: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a Fração do Pão, Paulo entretinha-se com eles...” (At 20,7). Este texto é importante. Aqui aparece a Celebração eucarística aos domingos, logo no início do cristianismo. Aquilo que a Igreja faz hoje – celebrar dominicalmente a Eucaristia -, sempre fez, desde a época apostólica, por ordem do Senhor Jesus! Assim, como diz o Catecismo da Igreja, “de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus, ‘até que ele venha’ (1Cor 11,26), o Povo de Deus avança, caminhando pela estrada da cruz, rumo ao banquete celeste, quando todos os eleitos haverão de sentar-se à mesa do Reino” (n. 1344).
Para ilustrar o que dissemos, baste-nos, por agora, o profundo texto de São Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios: “Eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória (= memorial) de mim’. Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória (= memorial) de mim’. Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,23-26). Um pouco mais tarde, lá pelo ano 155, São Justino, mártir cristão, explicaria ao Imperador romano, Antonino Pio: “No dia chamado ‘do Sol’ (= é o domingo cristão), reúnem-se todos juntos, habitantes das cidades e dos campos. São lidas as memórias dos Apóstolos (= nossos evangelhos atuais e os outros livros do Novo Testamento) e os escritos dos profetas (= o Antigo Testamento), tanto quanto o tempo permite. Depois, quando o leitor termina, aquele que preside nos admoesta e nos exorta a imitar esses bons exemplos. Depois, todos juntos, nos colocamos em pé e elevamos orações seja por nós mesmos, seja por todos os outros, onde quer que se encontrem... Terminadas as orações (= oração dos fiéis), saudamo-nos uns aos outros com um beijo. Depois, são trazidos àquele que preside um pão e um cálice de água e vinho. Ele os toma e eleva o louvor e glória ao Pai do universo em nome do Filho e do Espírito Santo e faz uma ação de graças (= em grego, ‘eucaristia’. É a atual Oração eucarística) para que esses dons sejam dignos de Deus. Quando ele termina as orações e a ação de graças (= a Oração eucarística), todo o povo presente aclama: ‘Amém’. Depois que o que preside fez a ação de graças e todo o povo aclamou, aqueles que nós chamamos diáconos distribuem a cada um dos presentes o pão e o vinho com água ‘eucaristizados’ e os levam aos ausentes...”
Que coisa linda! Dois mil anos se passaram e a Igreja de Cristo, fidelíssima à Tradição Apostólica, continua fazendo o que sempre fez: celebrando a Eucaristia até que venha o seu Senhor!


O Sacramento da Eucaristia – V PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:19
Pe. Henrique Soares da Costa
Nos últimos dois tópicos, vimos textos da Escritura que tratam da Eucaristia. Agora, veremos alguns textos da Igreja antiga, que mostram bem o quanto a Comunidade cristã sempre celebrou e viveu o Sacramento do corpo e do sangue do Senhor.
Santo Inácio de Antioquia, mártir de Cristo, lá pelos anos 90 do século I da era cristã, aconselhava aos Efésios: “Procurai, pois, reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus a ação de graças (= Eucaristia) e louvor. Porque quando vos congregais com freqüência num mesmo lugar, quebram-se as forças de Satanás”. Para o santo bispo de Antioquia, a Eucaristia, único corpo do Senhor, é sacramento (= sinal eficaz) da unidade da Igreja. Aos filadélfios, ele exortava: “Esforçai-vos, portanto, para usar uma só Eucaristia, pois uma só é a carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice que nos une no seu sangue, um só altar, como um só Bispo junto com o presbitério e com os diáconos”. Sendo conduzido preso para Roma para ser jogado às feras por causa de Cristo, Santo Inácio assim escrevia aos romanos: “Não sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta vida. Quero o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo e por bebida, quero o sangue dele, o qual é a caridade incorruptível”.
Um outro belo testemunho encontra-se na Didaqué, que é o primeiro catecismo da Igreja, escrito lá pelo final do século I. Com palavras que hoje emocionam qualquer católico, o autor, no início do cristianismo, orienta os cristãos sobre o modo de celebrar o Sacramento da Missa: “No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: primeiro sobre o cálice, dizendo: ‘Nós te damos graças (eucharistoumen = te fazemos eucaristia), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo (= a vinha é a Igreja, Davi é o Cristo), que tu revelaste por Jesus, teu servo. A ti a glória pelos séculos! Amém’. Sobre o pão a ser fracionado: ‘Nós te agradecemos, nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo. A ti a glória pelos séculos. Amém. Ó Pai, da mesma maneira como este pão partido primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim, das extremidades da terra seja unida a tua Igreja em teu Reino!’ Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome do Senhor. Pois a respeito dela o Senhor disse: ‘Não deis aos cães as coisas santas!’” Observemos como neste texto a Eucaristia aparece como ação de graças ao Pai por Jesus e como o Sacramento que reúne a Igreja na unidade. Mais adiante, ainda na Didaqué, o autor recomenda: “Reuni-vos no Dia do Senhor (= Domingo, Dies Domini) para a Fração do Pão e celebrai a Eucaristia, depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado. Com efeito, deste sacrifício disse o Senhor: ‘Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um sacrifício puro, porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre todos os povos!’” É emocionante ver um texto do primeiro século cristão que exprime a fé da Igreja apostólica e perceber que ainda hoje, dois mil anos depois, a Igreja de Cristo permanece fiel à fé de nossos antepassados: no Domingo, os cristãos participavam da Eucaristia, sabendo que ela é o sacrifício do Senhor Jesus! Dá pena ver tantas e tantas seitas cristãs que, abandonando a fé católica, recebida desde o início, mutilaram tristemente a fé transmitida pelos Apóstolos!
Num outro artigo sobre a Eucaristia, já citei um belíssimo texto de São Justino, mártir, que lá pelo ano 155, explicava como se celebrava este Sacramento. Agora, cito ainda um texto seu. Vele a pena! “Este alimento é chamado entre nós de Eucaristia, do qual a nenhum outro é permitido participar, senão a quem crê que nossa doutrina é verdadeira e que foi purificado com o Batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração e que vive como Cristo nos ensinou. Porque estas coisas, nós não as tomamos como pão comum nem bebida comum, mas assim como o Verbo de Deus, havendo-se encarnado em Jesus Cristo, nosso Salvador, tomou carne e sangue para nossa salvação, assim também nos foi ensinado que o alimento eucaristizado mediante a palavra da oração que vem dele... é a carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou!” Notemos como aparece claríssima a convicção de que o pão e o vinho eucaristizados (= consagrados) são verdadeiramente corpo e sangue do Senhor!
Também Santo Irineu, o grande Bispo de Lião, na Gália do século II, tem palavras belíssimas sobre a Eucaristia. Tomemos algumas. No primeiro texto, combatendo os hereges gnósticos, que negavam a ressurreição, avós do espiritismo e da Nova Era, ele usa a Eucaristia como prova de que os mortos ressuscitam carnalmente. Eis: “Como (os hereges) podem dizer que a carne se corrompe e não participa da vida (= não ressuscita), ela que é alimentada com o corpo e sangue do Senhor? Portanto (os hereges), ou mudem de opinião ou deixem de oferecer as ditas coisas (= o pão e o vinho eucarístico, que eles ofereciam nas missas deles). Para nós, contudo, nossa crença concorda com a Eucaristia e a Eucaristia, por sua vez, confirma a nossa crença. Porque assim como o pão que é da terra, recebendo a invocação de Deus (= quando o padre impõe as mãos pedindo o Espírito Santo e pronunciando as palavras da consagração), já não é pão ordinário, mas sim Eucaristia, assim também nossos corpos, recebendo a Eucaristia, não são mais corruptíveis, mas possuem a esperança da ressurreição para sempre!” Este texto é de uma beleza e de uma profundidade impressionantes! Santo Irineu garante: nós ressuscitaremos e já recebemos a garantia da ressurreição, que é a Eucaristia. O pão, depois de consagrado, é o corpo do Senhor, é pão de vida, assim, nossa carne que recebe a carne ressuscitada de Cristo, cheia do Espírito Santo, não permanecerá na morte, mas ressuscitará, exatamente como Jesus prometera: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia!” (Jo 6,54).
Ainda um texto de Santo Irineu, para fazer corar de vergonha qualquer um que nogue que nossa carne ressuscitará: “quando pois, o cálice misturado (com água) e o pão recebem o Verbo de Deus e se fazem Eucaristia, Corpo de Cristo, com o qual a substância de nossa carne aumenta e se faz, como podem dizer que nossa carne não é capaz do dom de Deus, que é a vida eterna, a carne alimentada com o corpo e o sangue do Senhor e feita membro dele?” A questão colocada aqui por Santo Irineu é clara: como é que os hereges têm coragem de dizer que nossa carne, nosso corpo, não pode ressuscitar, não pode herdar a vida eterna, se ela é alimentada com a Eucaristia? A Eucaristia é, portanto, penhor de nossa ressurreição. É por isso que nossa Mãe católica tem tanto cuidado e pede tanto aos padres que assistam os doentes às portas da morte, para que eles recebam em viático a comunhão. Aí, o padre diz ao que está morrendo: “O corpo de Cristo te guarde para a vida eterna!” Que coisa, que graça: morrer alimentando-se com a Vida que vence a morte; morrer unido – carne na carne! – Àquele que destruiu a morte! Santa Eucaristia!



O Sacramento da Eucaristia – VI PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:17
Pe. Henrique Soares da Costa
Veremos, agora, a estrutura da Eucaristia, isto é, como se organiza, como se desenvolve a Celebração eucarística.
Já vimos, num dos tópicos anteriores, São Justino descrevendo, no século II, a celebração. Os elementos básicos de então permanecem ainda hoje. Primeiramente, segundo antiga tradição, a missa divide-se em duas grandes partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Na primeira parte, a Palavra de Deus é proclamada e, na homilia, interpretada à luz do Cristo Jesus, de modo a iluminar a vida dos cristãos na sua situação concreta do dia-a-dia. Após a proclamação da Palavra, pelo Credo e a Oração dos fiéis, respondemos ao Deus que nos falou. Assim termina a primeira parte da missa, toda ela centrada no ambão (a estante donde se faz as leituras e a homilia) – é a Mesa da Palavra!
A segunda parte da missa é a mais importante: a Liturgia Eucarística, cujo centro é o altar, que simboliza o próprio Cristo Jesus, pedra angular da Igreja. Nesta parte da missa, a Igreja torna presentes os quatro gestos de Jesus: ele (1) tomou o pão, (2) deu graças, (3) partiu e (4) distribuiu... e mandou que fizéssemos isso em sua memória. Vejamos como estes quatro gestos se desenrolam na celebração.
Jesus tomou o pão. Este gesto do Senhor é tornado presente na apresentação das ofertas ao Altar: pão, vinho e água, que simbolizam tudo quanto a criação e o nosso trabalho produzem e que, em nome de toda a criação, unidos ao Filho Jesus, oferecemos ao Pai na força do Espírito Santo. Neste momento também, segundo antiqüíssima tradição da Igreja, os membros da Comunidade dão suas esmolas: o que trouxe para os pobres e para a manutenção da Casa de Deus e despesas da Comunidade paroquial.
Ele deu graças (quer dizer, ele fez eucaristia = ação de graças). A Igreja torna presente este gesto do Senhor na grande oração eucarística, que vai do prefácio da missa até a doxologia (o “por Cristo, com Cristo, em Cristo”). Aí ela recorda (= faz memorial) ao Pai tudo quanto Cristo fez por nós. O celebrante, em nome de toda a Comunidade eclesial, pede ao Pai que derrame o Espírito do Cristo ressuscitado sobre o pão e o vinho para que eles, pelas palavras da consagração, sejam eucaristizados, transformando-se no corpo e no sangue do Ressuscitado – é a consagração. É importante observar que a narração da consagração não é feita à comunidade, mas ao Pai: é a ele que recorda tudo quanto o Senhor Jesus fez para nossa salvação, é diante dele, Pai de Jesus e nosso Pai, que a Igreja celebra a memória da morte e ressurreição de Cristo. É como se o celebrante dissesse: “Ó Pai, recorda-te do teu Filho Jesus. Ele, na noite em que foi entregue...” Em seguida, ainda na grande Oração eucarística, o celebrante pede pela Igreja, pelos ministros sagrados e pelo povo de Deus, pelos vivos e mortos, pelo mundo inteiro... tudo isso ao Pai, por Cristo, com Cristo e em Cristo, na unidade do Espírito Santo. E a Comunidade responde “Amém!”, deixando claro que a oração do celebrante foi oração de toda a Igreja. Assim termina a grande Eucaristia (= ação de graças), o segundo gesto de Jesus.
Aí, vem a preparação para a comunhão, com a oração do Pai-nosso. Depois, o celebrante faz memória do terceiro gesto de Cristo: ele partiu o pão. Só aí – e não antes – é que o pão deve ser fragmentado! Este gesto é muito importante, pois recorda o próprio Jesus: seus discípulos o reconheceram ao partir o pão.
Realizado tudo isto, fazemos memória do último dos gestos que o Senhor nos mandou realizar: ele deu aos seus discípulos. É a comunhão eucarística no corpo e no sangue do Senhor. É o celebrante quem, em nome de Cristo, distribui a comunhão. Ele pode ser ajudado pelos ministros ordinários da comunhão (os padres concelebrantes e os diáconos) e pelos ministros extraordinários (os acólitos instituídos pelo bispo e os outros ministros da comunhão daquela paróquia).
Pronto! Feito tudo isso em memória do Senhor, o sacerdote conclui com a oração final. Depois – e somente depois – vêm os avisos da Comunidade e o povo recebe a bênção e é despedido.
Como podemos ver, a Celebração eucarística é toda ela bíblica. Com o tempo, mudam os ritos secundários, o modo de celebrar, mas nunca a essência.
É importante observar ainda que os gestos, as palavras, os ritos, as vestes, as várias funções, tudo isso tem um significado e deve ser respeitado e bem preparado. A Eucaristia deve ser celebrada sempre num clima de respeito, de piedade e reverência. O missal, que traz o rito da missa, deve ser seguido fielmente. Nem a comunidade nem o padre que preside podem fazer alterações que desobedeçam as normas litúrgicas da Igreja ou deturpem o sentido da celebração e a sua estrutura fundamental. A Eucaristia não é propriedade do celebrante nem da comunidade, mas sim um dom concedido a toda a Igreja, para que o guarde com amor e fidelidade, respeito e devoção até que o Senhor venha.
Continuaremos ainda no próximo tópico...


O Sacramento da Eucaristia – VII PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:16
Já vimos vários aspectos do sacramento da Eucaristia. Há ainda muito para ser visto. É assim mesmo: quando o mistério é grande demais, nossas palavras e idéias tornam-se tão pobres para exprimi-lo!
No presente artigo, veremos que a Eucaristia é realmente o sacrifício de Cristo. Trata-se de uma convicção presente na fé da Igreja e, no entanto, foi infelizmente contestada pelos Reformadores protestantes. Vamos seguir o Catecismo da Igreja Católica.
Recordemos: Cristo instituiu a Eucaristia na véspera de seu sacrifício e num clima sacrifical: “É o meu corpo, entregue por vós; é o meu sangue por vós derramado!” Assim, na Eucaristia, é o próprio Cristo, na sua entrega, no seu sacrifício, que se oferece ao Pai por todos nós. Mas, como poder ser isso? A Carta aos Hebreus diz claramente que Jesus se ofereceu por nós uma vez por todas: “Cristo não precisa, como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus pecados e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7,27). “Ele entrou uma vez por todas no Santuário, não com o sangue de bodes e de novilhos, mas com o próprio sangue, obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,12). “Cristo (...) entrou no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus a nosso favor. E não foi para oferecer-se a si mesmo muitas vezes, como o Sumo Sacerdote que entra no Santuário cada ano com sangue de outrem” (Hb 9,24s). “Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão” (Hb 9,28b). “Somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas. De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica” (Hb 10,10.14).
Como, pois, podemos afirmar que a Eucaristia celebrada continuamente pela Igreja até que o Senhor venha, é o sacrifício de Cristo? Recordemos, primeiramente, o que já foi dito sobre o memorial bíblico: este não é somente a recordação ou a repetição dos acontecimentos do passado, mas a proclamação da ação salvadora de Deus. Foi assim com a Páscoa dos judeus; assim também com a Páscoa de Cristo: cada vez que a Igreja celebra a Eucaristia, ela faz memorial do sacrifício do seu Senhor, isto é, torna-se presente sobre o Altar, na potência do Espírito Santo, que supera o tempo e o espaço, o único, irrepetível e eterno sacrifício do Senhor morto e ressuscitado! Assim, quando a Comunidade eclesial faz memorial da Páscoa do Cristo e esta se torna presente nos tempos do nosso tempo, da nossa vida, é o próprio sacrifício do Cristo oferecido uma vez por todas, sua oferta amorosa e eterna ao Pai, que permanece sempre presente e atual na nossa vida. Por isso, a Igreja ensina que toda vez que o sacrifício da cruz, com o qual Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado, é celebrado sobre o Altar, realiza-se a obra da nossa redenção. No sacrifício eucarístico, Cristo nos dá o mesmo Corpo que entregou por nós na cruz e o mesmo Sangue que derramou por todos, para a remissão dos pecados. Assim, a Eucaristia torna presente (= re-presenta) o sacrifício da cruz, pois é seu memorial. Eis o ensinamento do Concílio de Trento: “Cristo, Deus e Senhor nosso, mesmo tendo se imolado a Deus Pai uma só vez morrendo sobre o altar da cruz para realizar uma redenção eterna, porque, todavia, o seu sacerdócio não deveria extinguir-se com a morte (Hb 7,24.27), na última Ceia, na noite em que foi entregue, ele quis deixar à Igreja, sua amada Esposa, um sacrifício visível, como exige a natureza humana, com o qual fosse aquele sacrifício cruento que ele ofereceu uma vez por todas sobre a cruz, prolongando sua memória até fim do mundo (1Cor 11,23) e aplicando a sua eficácia salvífica para a remissão dos nossos pecados cotidianos”. Assim, o sacrifício da cruz e o sacrifício da Missa são um único sacrifício. Como ensina ainda o Concílio de Trento: “Trata-se, com efeito, de uma só e idêntica vítima e o mesmo Jesus se oferece pelo ministério dos sacerdotes, ele que um dia se ofereceu a si mesmo na cruz. Neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, está contido e imolado de modo incruento o mesmo Cristo que se ofereceu uma só vez de modo cruento no altar da cruz”.
Este sacrifício, oferecido pelo Cristo ao Pai, é também sacrifício da Igreja, já que esta é Corpo de Cristo, e ele é Cabeça do Corpo eclesial. Com ele, a Igreja se oferece toda inteira ao Pai na unidade do Espírito Santo, e se une à eterna intercessão dele, que é o único mediador entre Deus e os homens. Assim, é toda a Igreja que é unida à oferta e intercessão de Cristo! E quando eu digo Igreja, refiro-me à Igreja da terra, que peregrina rumo à Pátria, à Igreja que se purifica e à Igreja da Glória, com a Virgem e todos os anjos e santos!
Veremos, no próximo tópico, que a Eucaristia é, também, banquete, é presença real de Cristo e faz a unidade da Igreja.



O Sacramento da Eucaristia – VIII PDF Imprimir E-mail
Eucaristia
Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:14
Já vimos que a Eucaristia é o verdadeiro sacrifício do Novo Testamento, sacrifício do próprio Cristo, entregue por ele À sua Esposa, a Igreja, para que o ofereça em celebração até que ele volte. Veremos agora que a Eucaristia é também banquete: o Altar do sacrifício é também Mesa sagrada da refeição e da comunhão com o Senhor e os irmãos!
Antes de tudo, recordemos o Antigo Testamento que, além dos holocaustos (figuras do sacrifício que Cristo ofereceu e se torna presente em cada Eucaristia), conhecia também os sacrifícios de comunhão: aí se oferecia uma parte da vítima no altar e a outra parte era consumida num banquete pelos fiéis na presença do Senhor. O significado é belíssimo: faço refeição com o Senhor, à mesma mesa... Recordemo-nos que, para os orientais, comer à mesma mesa significa participar da mesma vida, da mesma sorte... significa ser amigos. Assim, quando os fiéis comiam à mesa do Deus de Israel, queriam exprimir a união de vida com Ele e com os outros participantes do banquete sacrifical (cf. Lv 7,11-21; 22,29-30). Tudo isto era preparação para a comunhão que o Senhor queria estabelecer conosco, uma comunhão inimaginável, estupenda: ele próprio daria seu Filho, morto e ressuscitado, pleno do Espírito Santo, como nosso alimento, como vida de nossa vida!
A Eucaristia, portanto, não somente é sacrifício, mas também banquete, aquele banquete tantas e tantas vezes anunciado pelos profetas! É importante insistir no significado do banquete: os convidados partilhavam a mesma vida (que vem do alimento e da bebida), por isso, participam da mesma alegria, da mesma intimidade, da mesma existência: na terra de Jesus só se convidava para um banquete os amigos! É por isso que o banquete é sinal de felicidade, de paz e de vida, porque é sinal de comunhão. Isso era ainda mais verdadeiro e forte no banquete dado pelo rei. Somente os altos dignitários participavam da mesa do rei. Assim, participar do banquete real era estar em comunhão com o rei, era ver a face do rei (que poucos viam no Oriente). Pois bem, tudo isso Deus nos concedeu na Eucaristia: “Minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,55s).
Pensemos agora um pouco: participar do banquete eucarístico é participar da Vida que o próprio Deus deu ao seu Filho ao ressuscitá-lo dos mortos. Como não pensar naquelas palavras de São João? “Deus nos deu a Vida eterna e esta Vida está em seu Filho! Quem tem o Filho, tem a Vida” (1Jo 5,11). É por isso que Jesus diz claramente: “Em verdade em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Eis, que mistério tão grande e tão santo! Participar do Pão e do Vinho eucarísticos é entrar em comunhão de Vida com Aquele que é Morto e Ressuscitado, com o Cordeiro eternamente imolado por nós! Participar das Espécies eucarísticas, das Coisas santas, é receber a própria Vida, aquela que Jesus recebeu na sua ressurreição, aquela Vida que estava junto do Pai e que nos apareceu (cf. 1Jo 1,2). Cada participação na Eucaristia é uma transfusão de vida eterna que recebemos, até que a consumemos na Glória!
Mas, tem mais ainda: comungar no Corpo e no Sangue do Senhor, Cabeçada Igreja, é entrar em comunhão com os irmãos que formam a Igreja. Nós somos con-corpóreos uns dos outros e somos consangüíneos uns com os outros, porque todos temos um só corpo (o Corpo de Cristo) e temos um só sangue (o Sangue de Cristo). Somos irmãos carnais, irmãos de sangue, irmãos eucarísticos! Por isso, São Paulo nos ensina: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16s). Difícil dizer isso com palavras mais bonitas! No Banquete eucarístico acontece a comunhão entre nós e Cristo e, por ele, a comunhão entre nós, no único Espírito Santo de Cristo ressuscitado. Nunca nos esqueçamos que o Pão e o Vinho eucarísticos foram cristificados pela ação do Espírito do Ressuscitado! É por isso que a Eucaristia faz a Igreja: neste santo Banquete nos tornamos sempre mais corpo do Senhor, Igreja do Senhor!
Por tudo isso, é absolutamente incompreensível que alguém participe da Missa sem comungar! O sacrifício eucarístico tende para esta comunhão entre nós e o Cristo, que se consuma quando comungamos! Somente por razões gravíssimas devemos nos abster da comunhão. Caso contrário, temos a obrigação de amor e de sede de vida de procurar o sacramento da Penitência e nos reconciliar com Cristo e a Igreja, de modo a participar plenamente do Banquete eucarístico! Ninguém vai a um jantar e fica sem comer... Certamente, há casos em que o mais aconselhável é não receber a comunhão... Mas aí não é por desleixo ou descaso, mas por coerência e coragem de quem é maduro para assumir que está em alguma situação particularmente problemática em relação ao Evangelho. É o caso, por exemplo, dos que estão unidos em segunda união já sendo casados na Igreja e o primeiro cônjuge ainda estando vivo. Mas, que esses irmãos e irmãs não se desesperem: o Senhor também vem a eles e para eles, pois conhece a sua história e vê o seu coração. É preciso recordar que, se a Igreja está ligada aos sacramentos, o Senhor não está: ele é o Senhor dos sacramentos e pode vir com sua graça de modo desconhecido e inesperado para nós. É bom recordar também que aqui não se trata de julgar os outros ou dizer que alguém não é digno de comungar! Quem de nós é digno? Quem ousaria pensar-se digno do Senhor? A Igreja, ao invés, nos ensina a dizer, antes de cada comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada!” A regra, no entanto, é clara: o quanto possível, comungar sempre, em cada Eucaristia da qual participarmos! É o ensaio geral para o banquete eterno, quando seremos saciados eternamente da glória de Cristo.
Gostaria de terminar com as palavras emocionantes da Liturgia de São João Crisóstomo: “Ó Filho de Deus, faz-me hoje participante do teu místico Banquete. Não entregarei o teu Mistério aos teus inimigos nem te darei o beijo de Judas. Mas, como o ladrão, eu te digo: Recorda-te de mim, Senhor, quando estiveres no teu Reino!”



       

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