Pe. Henrique Soares da Costa
Vamos, agora, tratar de Eucaristia, o último dos
sacramentos da iniciação cristã, o último dos sacramentos que nos
inserem na vida do Cristo morto e ressuscitado, fazendo-nos
plenamente cristãos. Trata-se do maior e mais sublime de todos os
sacramentos, o Sacramento por excelência – o Santíssimo Sacramento!
Como falar deste sacramento é muito complexo, dada a
riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vamos seguir o
esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e
aprofundando-o. E vamos iniciar precisamente citando Catecismo: O
nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi
entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue, para
perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da
cruz, e para confiar, assim, à Igreja, sua amada esposa, o memorial
da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de
unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe
Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória
futura” (n. 1323). Estas palavras resumem de modo admirável o
sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante observar
algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos
pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na
Celebração eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do
Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no decorrer dos
séculos, até que ele venha, o sacrifício da cruz! Então, a
Eucaristia é a Missa! Mas, que significa “missa”? Onde, nas
Escrituras Sagradas, se fala nela?
No decorrer da história este sacramento teve vários
nomes, cada um deles sublinhando um aspecto deste mistério tão
rico.
Primeiramente chamou-se “Eucaristia”, palavra grega que significa, “ação de graças”. O termo aparece muitas vezes o Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de graças que tantas vezes Jesus pronunciou nas suas refeições com os discípulos: “E tomou o pão, deu graças (= eucaristizou),
partiu e distribuiu-o entre eles, dizendo: ‘Isto é o meu corpo que
é entregue por vós” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e,
depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o...” (1Cor 11,23s).
Na religião dos judeus, a bênção de ação de graças era proclamação
das obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel
dava graças pelas grandes obras do Senhor em seu favor. Por isso,
os cristãos, cumprindo a ordem do Senhor Jesus, celebram a Ação de
Graças a Deus pela sua grande obra: ter entregado o seu Filho desde
a encarnação até a consumação na cruz, tê-lo ressuscitado dos
mortos e o feito assentar-se à sua direita na glória. Assim,
celebrar a santa Eucaristia é bendizer e agradecer a Deus por tudo
que nos fez pelo seu santo Filho Jesus.
Outro nome dado à Eucaristia, já no novo Testamento, foi “Ceia do Senhor”
(cf. 1Cor 11,20), porque este sacramento é a celebração daquela
ceia que o Senhor comeu com os seus discípulos na véspera da
Páscoa. Por um lado, aquela ceia era já a celebração ritual, em
gestos, palavras e símbolos, daquilo que o Senhor iria realizar no
dia seguinte: ele se entregaria totalmente na cruz, iria nos dar
seu corpo e seu sangue: “Comei: isto é o meu corpo que será
entregue na cruz! Bebei: isto é o meu sangue que será derramado por
vossa causa!” Por outro lado, esta ceia sagrada, chamada Última
Ceia, já antecipava a ceia das núpcias do Cordeiro, núpcias de
Cristo ressuscitado com sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste:
“Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19,9).
Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia que
Jesus celebrou como memorial de sua paixão, morte e ressurreição,
mas também já antecipar, já saborear, na força do Espírito Santo, a
ceia do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus, será o
alimento eterno para sua Esposa, a Igreja. Em outras palavras: é
uma ceia que começa na terra e durará no céu, por toda a
eternidade!
Mais um nome para este sacramento santíssimo: “Fração do Pão”.
É um nome antigo, presente também já no novo Testamento, sobretudo
nos Atos dos Apóstolos. Este rito de partir o pão, típico da ceia
judaica, foi muitas vezes repetido por Jesus quando abençoava e
distribuía o pão (cf. Mt 14,19; 15,36; Mc 8,6.19) e, sobretudo, na
Última Ceia, quando ele partiu o pão. Através desse mesmo gesto, os
discípulos reconheceram o Senhor ressuscitado: eles o reconheceram
ao partir o pão (cf. Lc 24,13-35). Por tudo isso, os primeiros
cristãos usavam a expressão “fração do pão” para designar suas reuniões
nas quais, na ceia, partiam o pão como Jesus e em memória de Jesus.
Deste modo, os primeiros cristãos queriam revelar a consciência
que tinham que todo aquele que come o único pão partido, pão da
Eucaristia, que´e o próprio Senhor ressuscitado, entre em comunhão
com ele e forma com ele um só corpo, que é a Igreja: “O cálice
de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O
pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um
único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos
participamos desse único pão” (1Cor 10,16s).
Um outro nome, que era caro aos santos doutores da Igreja Antiga, sobretudo os de língua grega, era “Santa Synáxis”,
que significa “assembléia”, “reunião”. Isto porque a Eucaristia é
para ser celebrada pela Comunidade eclesial presidida pelo ministro
ordenado. Onde a Comunidade se reúne para a Eucaristia, aí está a
Igreja, povo de Deus reunido no único Espírito Santo, para oferecer
o único sacrifício do Filho Jesus para a glória do Pai e salvação
do mundo inteiro.
Continuaremos no próximo artigo. Ainda temos muito para ver.
O Sacramento da Eucaristia – II |
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Eucaristia
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Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:24 |
Côn. Henrique Soares da Costa
No tópico passado de nossa série sobre a Eucaristia,
começamos a ver os vários nomes dados a esse Sacramento e seus
significados respectivos. Continuemos ainda.
A Eucaristia é chamada também de “Memorial”
da Paixão e Ressurreição do Senhor. Vale a pena compreender bem o
sentido da palavra “memorial”. Ela não significa simplesmente
recordação ou memória. Nas Escrituras, memorial é dito zikaron
e significa tornar presente, por gestos, símbolos e palavras, um
fato acontecido no passado uma vez por todas. Por exemplo: uma vez por
ano, os judeus celebravam e celebram ainda hoje a Páscoa, memorial
da saída do Egito. Pois bem, eles, nessa celebração, não somente
recordam a passagem da escravidão para a liberdade, mas tinham e
têm a consciência que, participando da celebração, participam
realmente da própria libertação que Deus operara. Tanto isso é
verdade que, ainda hoje, o pai de família judeu, aquele que preside
à celebração, diz assim: “Em toda geração, cada um deve
considerar-se como se tivesse pessoalmente saído do Egito, como está
escrito: ‘Explicarás então a teu filho: isto é em memória do que o Senhor fez por mim, quando saí do Egito’.
Portanto, é nosso dever agradecer, honrar e louvar, glorificar,
celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a quem realizou
todos esses milagres por nossos pais e para nós mesmos. Ele nos
conduziu da escravidão à liberdade, do sofrimento à alegria, da
desolação a dias festivos, da escuridão a uma grande claridade e do
cativeiro à redenção”. E, depois, acrescenta: “Bendito sejas
tu, Adonai, nosso Deus, rei do universo, que nos redimiste,
libertaste nossos pais do Egito, e nos permitiste viver esta noite
para participar do Cordeiro, do pão ázimo e das ervas amargas”.
Ora, é exatamente isso que a Eucaristia é: memorial da Páscoa do
Senhor Jesus. Quando nós a celebramos, torna-se presente no nosso
hoje, na nossa vida, na nossa situação, tudo quanto Jesus fez por
nós, que alcança seu cume na sua morte e ressurreição. Deste modo, a
Páscoa do Senhor está sempre presente e atuante na nossa vida e,
através de Jesus e com Jesus, podemos dizer ao Pai como os judeus dizem:
“é nosso dever agradecer, honrar e louvar, glorificar, celebrar,
enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a ti, Adonai, Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo!” Então, assim sendo, não é uma idéia
muito exata afirmar que a missa é a repetição ou a renovação do
sacrifício de Cristo. Não se repete, porque ele foi oferecido uma
vez por todas; não se renova, porque não ficou caduco, envelhecido.
Em cada missa torna-se presente, atuante, o único sacrifício
pascal do Senhor, memorial de sua encarnação, de sua vida humana, de sua
paixão, morte e ressurreição, de sua ascensão ao Pai e do dom do
Espírito que ele nos fez!
Outra denominação para a Missa é “Santo Sacrifício”.
Isto porque, como já dissemos, ela torna presente, “presentifica”,
o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício
que o Senhor Jesus deu à sua Igreja para que ela o ofereça até que
ele venha em sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de sacrifício de
louvor, sacrifício espiritual (porque oferecido na força do
Espírito Santo), sacrifício puro e santo (porque sacrifício do próprio
Cristo Jesus). Este santo sacrifício da Missa leva à plenitude todos
os sacrifícios de todas as religiões e, particularmente, aqueles
do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras da profecia
de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito
ao seu nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o meu nome
será grande entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao meu
nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura” (1,11).
Cristo, com seu sacrifício único e irrepetível, que entregou à sua
Igreja para celebrá-lo até que ele venha, ofereceu este sacrifício,
cumprindo a profecia.
Ainda um outro nome para a Missa: “Santa e Divina Liturgia”.
São os católicos orientais que gostam mais de denominar assim a
Eucaristia. Chamam-na “liturgia” porque toda a liturgia da Igreja
(todas as suas celebrações), encontra seu centro, sua fonte, seu
cume e sua mais densa expressão na celebração da Eucaristia. É no
mesmo sentido que chamamos a Missa de “Santos Mistérios”.
“Mistérios”, falando teologicamente, são os sacramentos, são os
gestos e palavras pelas quais a salvação chega até nós. Ora, o
Mistério da Eucaristia é o canal privilegiado pelo qual entramos em
contato com a graça advinda da Páscoa do Cristo Jesus!
“Comunhão”
– eis aqui outro nome dado à Eucaristia. Nome belíssimo! É chamada
assim porque nela nos unimos a Cristo, que nos faz cada vez mais
membros do seu Corpo e, assim, membros uns dos outros – pois o
Corpo de Cristo é a Igreja, que somos nós. Comungando no Corpo do
Senhor, entramos em comunhão com Cristo e, em Cristo, pleno do
Santo Espírito, entramos em comunhão uns com os outros.
Outra expressão, também cara aos nossos irmãos católicos orientais, é “Coisas Santas”.
Coisas Santas são o Pão e o Vinho eucarísticos, Corpo e Sangue do
Senhor, que cria a Comunhão dos Santos, que é a Igreja. Comungando
as Coisas Santas, entramos em comunhão uns com os outros em Cristo,
tornamo-nos membros da Comunhão dos Santos, que é a Igreja, e
comprometemo-nos a viver tal comunhão na vida de cada dia, como
comunhão de vida, pela solidariedade, pela partilha, pelo amor
fraterno.
Finalmente, o termo mais popular entre nós: “Missa”. Esta palavra foi adotada na Idade Média e vem do latim “missio” (= missão, envio). Recorda a despedida da Celebração eucarística: “Ite, missa es!t” É este “ide!” que exprime a missão (= a missio)
de quem participa da Eucaristia. Celebrar a Páscoa do Senhor exige
do cristão a missão de testemunhar e anunciar o Cristo. É como se,
ao final da Celebração, fosse-nos dito: agora que vocês
participaram do Corpo e do Sangue do Ressuscitado, vão pelo mundo e
testemunhem sua vitória. Ele está vivo! Vocês, que comeram e beberam
com ele, serão testemunhas disso até os confins da terra!
O Sacramento da Eucaristia – III |
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Eucaristia
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Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:23 |
Pe. Henrique Soares da Costa
Já
vimos, de modo geral, o que é a Eucaristia. Vimos também os vários
nomes que são dados a este Sacramento e seus vários significados.
Agora vejamos como ele está presente na Sagrada Escritura.
Já durante o seu ministério público, o Senhor Jesus foi
dando indicações daquilo que depois seria este santo Sacramento.
Vejamos algumas, mais significativas.
Primeiramente dois sinais particularmente importantes,
realizados pelo Senhor: ele transformou água em vinho e multiplicou
os pães. Mais ainda: várias vezes comparou o Reino de Deus a um
banquete. Sobretudo em Jo 6,51ss, as palavras de Cristo são bem
claras: “Eu sou o pão descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo.
Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho
do Homem em ao beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, pois
minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é
verdadeiramente bebida. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu
vivo pelo Pai, também aquele que come de mim, viverá por mim”.
O texto não permite pensar em metáforas; trata-se, ao invés, de algo
real, concreto: o pão e o vinho eucarísticos são, realmente, o
corpo e o sangue do Senhor. Por isso mesmo, os evangelhos, quando
narram a multiplicação dos pães, usam sempre as mesmas palavras
para indicar os gestos de Jesus na Última Ceia: ele tomou o pão,
deu graças, partiu e distribuiu (cf. Mt 14,13-21; Lc 9,10-17; Jo
6,1-13; Mc 8,1-10). A Eucaristia, já preparada pelo Cristo, foi por
ele instituída na Última Ceia: aí o Senhor deu à Igreja o
mandamento do amor – ele mesmo, que nos amou até o extremo da cruze da
sepultura e se colocou como modelo e medida do amor. E para deixar o
sacramento, o penhor desse amor mais forte que a morte, instituiu a
Eucaristia como memorial de sua morte e ressurreição, de sua
entrega amorosa, pascal! Assim, no momento de fazer sua Passagem (=
Páscoa) do mundo para o Pai através de sua entrega de amor na
cruz, o Cristo Jesus deixou para a sua Igreja o sacramento de sua
Páscoa de amor: o sacrifício eucarístico! Cumpriu-se, assim, a
Páscoa dos judeus, que era memorial da passagem da escravidão de
morte no Egito para uma libertação de vida na Terra Prometida.
Jesus deu à Páscoa dos judeus seu significado definitivo: a nova
Páscoa, Páscoa de Jesus, foi antecipada na Ceia, é continuamente
celebrada na Eucaristia, que leva a cumprimento a Páscoa judaica e
antecipa a Páscoa final da Igreja, quando passaremos deste mundo
para o Pai com Jesus e por causa de Jesus.
É interessante observar já aqui que a instituição da
Eucaristia por Cristo dá-se no contexto, no clima, de entrega e
sacrifício de sua vida: “É o meu corpo, que será entregue; é o meu sangue, que será derramado”...
Finalmente, o Senhor ordena que a Igreja celebre o seu gesto até
que ele venha (cf. 1Cor 11,26). Foi isto que a Igreja sempre fez ao
celebrar a Eucaristia. O Novo Testamento nos dá muitíssimos
exemplos disso. Desde o início, a Igreja foi fiel à Fração do Pão
(cf. At 2,42.46). Sobretudo no primeiro dia da semana, aquele dia
que o Apocalipse chama já de Dia do Senhor (cf. 1,10), os cristãos
se reuniam para partir o pão: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a Fração do Pão, Paulo entretinha-se com eles...” (At 20,7).
Este texto é importante. Aqui aparece a Celebração eucarística aos
domingos, logo no início do cristianismo. Aquilo que a Igreja faz
hoje – celebrar dominicalmente a Eucaristia -, sempre fez, desde a
época apostólica, por ordem do Senhor Jesus! Assim, como diz o Catecismo
da Igreja, “de celebração em celebração, anunciando o mistério
pascal de Jesus, ‘até que ele venha’ (1Cor 11,26), o Povo de Deus
avança, caminhando pela estrada da cruz, rumo ao banquete celeste,
quando todos os eleitos haverão de sentar-se à mesa do Reino” (n.
1344).
Para ilustrar o que dissemos, baste-nos, por agora, o
profundo texto de São Paulo, em sua primeira Epístola aos
Coríntios: “Eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na
noite em que foi entregue o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de
dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós;
fazei isto em memória (= memorial) de mim’. Do mesmo modo, após a ceia,
também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança em
meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória (=
memorial) de mim’. Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e
bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha”
(1Cor 11,23-26). Um pouco mais tarde, lá pelo ano 155, São Justino, mártir cristão, explicaria ao Imperador romano, Antonino Pio: “No
dia chamado ‘do Sol’ (= é o domingo cristão), reúnem-se todos
juntos, habitantes das cidades e dos campos. São lidas as memórias
dos Apóstolos (= nossos evangelhos atuais e os outros livros do
Novo Testamento) e os escritos dos profetas (= o Antigo Testamento),
tanto quanto o tempo permite. Depois, quando o leitor termina,
aquele que preside nos admoesta e nos exorta a imitar esses bons
exemplos. Depois, todos juntos, nos colocamos em pé e elevamos
orações seja por nós mesmos, seja por todos os outros, onde quer
que se encontrem... Terminadas as orações (= oração dos fiéis),
saudamo-nos uns aos outros com um beijo. Depois, são trazidos
àquele que preside um pão e um cálice de água e vinho. Ele os toma e
eleva o louvor e glória ao Pai do universo em nome do Filho e do
Espírito Santo e faz uma ação de graças (= em grego, ‘eucaristia’. É
a atual Oração eucarística) para que esses dons sejam dignos de
Deus. Quando ele termina as orações e a ação de graças (= a Oração
eucarística), todo o povo presente aclama: ‘Amém’. Depois que o que
preside fez a ação de graças e todo o povo aclamou, aqueles que
nós chamamos diáconos distribuem a cada um dos presentes o pão e o
vinho com água ‘eucaristizados’ e os levam aos ausentes...”
Que coisa linda! Dois mil anos se passaram e a Igreja
de Cristo, fidelíssima à Tradição Apostólica, continua fazendo o
que sempre fez: celebrando a Eucaristia até que venha o seu Senhor!
O Sacramento da Eucaristia – V |
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Eucaristia
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Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:19 |
Pe. Henrique Soares da Costa
Nos últimos dois tópicos, vimos textos da Escritura que
tratam da Eucaristia. Agora, veremos alguns textos da Igreja
antiga, que mostram bem o quanto a Comunidade cristã sempre
celebrou e viveu o Sacramento do corpo e do sangue do Senhor.
Santo Inácio de Antioquia, mártir de Cristo, lá pelos
anos 90 do século I da era cristã, aconselhava aos Efésios: “Procurai,
pois, reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus a ação de
graças (= Eucaristia) e louvor. Porque quando vos congregais com
freqüência num mesmo lugar, quebram-se as forças de Satanás”.
Para o santo bispo de Antioquia, a Eucaristia, único corpo do
Senhor, é sacramento (= sinal eficaz) da unidade da Igreja. Aos
filadélfios, ele exortava: “Esforçai-vos, portanto, para usar
uma só Eucaristia, pois uma só é a carne de nosso Senhor Jesus
Cristo e um só é o cálice que nos une no seu sangue, um só altar,
como um só Bispo junto com o presbitério e com os diáconos”. Sendo conduzido preso para Roma para ser jogado às feras por causa de Cristo, Santo Inácio assim escrevia aos romanos: “Não
sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta
vida. Quero o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo e por bebida,
quero o sangue dele, o qual é a caridade incorruptível”.
Um outro belo testemunho encontra-se na Didaqué, que é o
primeiro catecismo da Igreja, escrito lá pelo final do século I.
Com palavras que hoje emocionam qualquer católico, o autor, no
início do cristianismo, orienta os cristãos sobre o modo de
celebrar o Sacramento da Missa: “No que concerne à Eucaristia,
celebrai-a da seguinte maneira: primeiro sobre o cálice, dizendo: ‘Nós
te damos graças (eucharistoumen = te fazemos eucaristia),
nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo (= a vinha é a
Igreja, Davi é o Cristo), que tu revelaste por Jesus, teu servo. A
ti a glória pelos séculos! Amém’. Sobre o pão a ser fracionado:
‘Nós te agradecemos, nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que
nos revelaste por Jesus, teu servo. A ti a glória pelos séculos.
Amém. Ó Pai, da mesma maneira como este pão partido primeiro fora
semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim,
das extremidades da terra seja unida a tua Igreja em teu Reino!’
Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado
em nome do Senhor. Pois a respeito dela o Senhor disse: ‘Não deis
aos cães as coisas santas!’” Observemos como neste texto a
Eucaristia aparece como ação de graças ao Pai por Jesus e como o
Sacramento que reúne a Igreja na unidade. Mais adiante, ainda na
Didaqué, o autor recomenda: “Reuni-vos no Dia do Senhor (=
Domingo, Dies Domini) para a Fração do Pão e celebrai a Eucaristia,
depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso
sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro,
não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que
vosso sacrifício não seja profanado. Com efeito, deste sacrifício
disse o Senhor: ‘Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um
sacrifício puro, porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu
nome é admirável entre todos os povos!’” É emocionante ver um
texto do primeiro século cristão que exprime a fé da Igreja
apostólica e perceber que ainda hoje, dois mil anos depois, a Igreja
de Cristo permanece fiel à fé de nossos antepassados: no Domingo, os
cristãos participavam da Eucaristia, sabendo que ela é o sacrifício
do Senhor Jesus! Dá pena ver tantas e tantas seitas cristãs que,
abandonando a fé católica, recebida desde o início, mutilaram
tristemente a fé transmitida pelos Apóstolos!
Num
outro artigo sobre a Eucaristia, já citei um belíssimo texto de
São Justino, mártir, que lá pelo ano 155, explicava como se
celebrava este Sacramento. Agora, cito ainda um texto seu. Vele a
pena! “Este alimento é chamado entre nós de Eucaristia, do qual
a nenhum outro é permitido participar, senão a quem crê que nossa
doutrina é verdadeira e que foi purificado com o Batismo para o perdão
dos pecados e para a regeneração e que vive como Cristo nos
ensinou. Porque estas coisas, nós não as tomamos como pão comum nem
bebida comum, mas assim como o Verbo de Deus, havendo-se encarnado
em Jesus Cristo, nosso Salvador, tomou carne e sangue para nossa
salvação, assim também nos foi ensinado que o alimento
eucaristizado mediante a palavra da oração que vem dele... é a
carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou!” Notemos como
aparece claríssima a convicção de que o pão e o vinho
eucaristizados (= consagrados) são verdadeiramente corpo e sangue
do Senhor!
Também
Santo Irineu, o grande Bispo de Lião, na Gália do século II, tem
palavras belíssimas sobre a Eucaristia. Tomemos algumas. No
primeiro texto, combatendo os hereges gnósticos, que negavam a
ressurreição, avós do espiritismo e da Nova Era, ele usa a
Eucaristia como prova de que os mortos ressuscitam carnalmente.
Eis: “Como (os hereges) podem dizer que a carne se corrompe e não
participa da vida (= não ressuscita), ela que é alimentada com o
corpo e sangue do Senhor? Portanto (os hereges), ou mudem de
opinião ou deixem de oferecer as ditas coisas (= o pão e o vinho
eucarístico, que eles ofereciam nas missas deles). Para nós,
contudo, nossa crença concorda com a Eucaristia e a Eucaristia, por
sua vez, confirma a nossa crença. Porque assim como o pão que é da
terra, recebendo a invocação de Deus (= quando o padre impõe as
mãos pedindo o Espírito Santo e pronunciando as palavras da
consagração), já não é pão ordinário, mas sim Eucaristia, assim
também nossos corpos, recebendo a Eucaristia, não são mais
corruptíveis, mas possuem a esperança da ressurreição para sempre!”
Este texto é de uma beleza e de uma profundidade impressionantes!
Santo Irineu garante: nós ressuscitaremos e já recebemos a garantia
da ressurreição, que é a Eucaristia. O pão, depois de consagrado, é
o corpo do Senhor, é pão de vida, assim, nossa carne que recebe a
carne ressuscitada de Cristo, cheia do Espírito Santo, não
permanecerá na morte, mas ressuscitará, exatamente como Jesus prometera:
“quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia!” (Jo 6,54).
Ainda um texto de Santo Irineu, para fazer corar de vergonha qualquer um que nogue que nossa carne ressuscitará: “quando
pois, o cálice misturado (com água) e o pão recebem o Verbo de
Deus e se fazem Eucaristia, Corpo de Cristo, com o qual a
substância de nossa carne aumenta e se faz, como podem dizer que nossa
carne não é capaz do dom de Deus, que é a vida eterna, a carne
alimentada com o corpo e o sangue do Senhor e feita membro dele?” A
questão colocada aqui por Santo Irineu é clara: como é que os
hereges têm coragem de dizer que nossa carne, nosso corpo, não pode
ressuscitar, não pode herdar a vida eterna, se ela é alimentada
com a Eucaristia? A Eucaristia é, portanto, penhor de nossa
ressurreição. É por isso que nossa Mãe católica tem tanto cuidado e
pede tanto aos padres que assistam os doentes às portas da morte,
para que eles recebam em viático a comunhão. Aí, o padre diz ao que está
morrendo: “O corpo de Cristo te guarde para a vida eterna!”
Que coisa, que graça: morrer alimentando-se com a Vida que vence a
morte; morrer unido – carne na carne! – Àquele que destruiu a
morte! Santa Eucaristia!
O Sacramento da Eucaristia – VI |
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Eucaristia
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Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:17 |
Pe. Henrique Soares da Costa
Veremos, agora, a estrutura da Eucaristia, isto é, como
se organiza, como se desenvolve a Celebração eucarística.
Já vimos, num dos tópicos anteriores, São Justino
descrevendo, no século II, a celebração. Os elementos básicos de
então permanecem ainda hoje. Primeiramente, segundo antiga
tradição, a missa divide-se em duas grandes partes: a Liturgia da
Palavra e a Liturgia Eucarística. Na primeira parte, a Palavra de Deus é
proclamada e, na homilia, interpretada à luz do Cristo Jesus, de
modo a iluminar a vida dos cristãos na sua situação concreta do
dia-a-dia. Após a proclamação da Palavra, pelo Credo e a Oração dos
fiéis, respondemos ao Deus que nos falou. Assim termina a primeira
parte da missa, toda ela centrada no ambão (a estante donde se faz
as leituras e a homilia) – é a Mesa da Palavra!
A segunda parte da missa é a mais importante: a
Liturgia Eucarística, cujo centro é o altar, que simboliza o
próprio Cristo Jesus, pedra angular da Igreja. Nesta parte da
missa, a Igreja torna presentes os quatro gestos de Jesus: ele (1) tomou
o pão, (2) deu graças, (3) partiu e (4) distribuiu... e mandou que
fizéssemos isso em sua memória. Vejamos como estes quatro gestos
se desenrolam na celebração.
Jesus tomou o pão.
Este gesto do Senhor é tornado presente na apresentação das ofertas
ao Altar: pão, vinho e água, que simbolizam tudo quanto a criação e o
nosso trabalho produzem e que, em nome de toda a criação, unidos ao
Filho Jesus, oferecemos ao Pai na força do Espírito Santo. Neste
momento também, segundo antiqüíssima tradição da Igreja, os membros
da Comunidade dão suas esmolas: o que trouxe para os pobres e para
a manutenção da Casa de Deus e despesas da Comunidade paroquial.
Ele deu graças (quer
dizer, ele fez eucaristia = ação de graças). A Igreja torna
presente este gesto do Senhor na grande oração eucarística, que vai do
prefácio da missa até a doxologia (o “por Cristo, com Cristo, em
Cristo”). Aí ela recorda (= faz memorial) ao Pai tudo quanto Cristo
fez por nós. O celebrante, em nome de toda a Comunidade eclesial,
pede ao Pai que derrame o Espírito do Cristo ressuscitado sobre o
pão e o vinho para que eles, pelas palavras da consagração, sejam
eucaristizados, transformando-se no corpo e no sangue do
Ressuscitado – é a consagração. É importante observar que a
narração da consagração não é feita à comunidade, mas ao Pai: é a ele
que recorda tudo quanto o Senhor Jesus fez para nossa salvação, é
diante dele, Pai de Jesus e nosso Pai, que a Igreja celebra a
memória da morte e ressurreição de Cristo. É como se o celebrante
dissesse: “Ó Pai, recorda-te do teu Filho Jesus. Ele, na noite em
que foi entregue...” Em seguida, ainda na grande Oração
eucarística, o celebrante pede pela Igreja, pelos ministros
sagrados e pelo povo de Deus, pelos vivos e mortos, pelo mundo
inteiro... tudo isso ao Pai, por Cristo, com Cristo e em Cristo, na
unidade do Espírito Santo. E a Comunidade responde “Amém!”,
deixando claro que a oração do celebrante foi oração de toda a
Igreja. Assim termina a grande Eucaristia (= ação de graças), o
segundo gesto de Jesus.
Aí, vem a preparação para a comunhão, com a oração do
Pai-nosso. Depois, o celebrante faz memória do terceiro gesto de
Cristo: ele partiu o pão. Só aí – e não antes – é
que o pão deve ser fragmentado! Este gesto é muito importante, pois
recorda o próprio Jesus: seus discípulos o reconheceram ao partir o
pão.
Realizado tudo isto, fazemos memória do último dos gestos que o Senhor nos mandou realizar: ele deu aos seus discípulos.
É a comunhão eucarística no corpo e no sangue do Senhor. É o
celebrante quem, em nome de Cristo, distribui a comunhão. Ele pode
ser ajudado pelos ministros ordinários da comunhão (os padres
concelebrantes e os diáconos) e pelos ministros extraordinários (os
acólitos instituídos pelo bispo e os outros ministros da comunhão
daquela paróquia).
Pronto! Feito tudo isso em memória do Senhor, o
sacerdote conclui com a oração final. Depois – e somente depois –
vêm os avisos da Comunidade e o povo recebe a bênção e é despedido.
Como podemos ver, a Celebração eucarística é toda ela
bíblica. Com o tempo, mudam os ritos secundários, o modo de
celebrar, mas nunca a essência.
É importante observar ainda que os gestos, as palavras,
os ritos, as vestes, as várias funções, tudo isso tem um
significado e deve ser respeitado e bem preparado. A Eucaristia
deve ser celebrada sempre num clima de respeito, de piedade e
reverência. O missal, que traz o rito da missa, deve ser seguido
fielmente. Nem a comunidade nem o padre que preside podem fazer
alterações que desobedeçam as normas litúrgicas da Igreja ou
deturpem o sentido da celebração e a sua estrutura fundamental. A
Eucaristia não é propriedade do celebrante nem da comunidade, mas
sim um dom concedido a toda a Igreja, para que o guarde com amor e
fidelidade, respeito e devoção até que o Senhor venha.
Continuaremos ainda no próximo tópico...
O Sacramento da Eucaristia – VII |
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Eucaristia
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Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:16 |
Já vimos vários aspectos do sacramento da Eucaristia.
Há ainda muito para ser visto. É assim mesmo: quando o mistério é
grande demais, nossas palavras e idéias tornam-se tão pobres para
exprimi-lo!
No presente artigo, veremos que a Eucaristia é
realmente o sacrifício de Cristo. Trata-se de uma convicção
presente na fé da Igreja e, no entanto, foi infelizmente contestada
pelos Reformadores protestantes. Vamos seguir o Catecismo da
Igreja Católica.
Recordemos: Cristo instituiu a Eucaristia na véspera de seu sacrifício e num clima sacrifical: “É o meu corpo, entregue por vós; é o meu sangue por vós derramado!”
Assim, na Eucaristia, é o próprio Cristo, na sua entrega, no seu
sacrifício, que se oferece ao Pai por todos nós. Mas, como poder
ser isso? A Carta aos Hebreus diz claramente que Jesus se ofereceu por
nós uma vez por todas: “Cristo não precisa, como os sumos
sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus
pecados e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas,
oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7,27). “Ele entrou uma vez por todas
no Santuário, não com o sangue de bodes e de novilhos, mas com o
próprio sangue, obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,12). “Cristo
(...) entrou no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da
face de Deus a nosso favor. E não foi para oferecer-se a si mesmo muitas
vezes, como o Sumo Sacerdote que entra no Santuário cada ano com
sangue de outrem” (Hb 9,24s). “Cristo foi oferecido uma vez por
todas para tirar os pecados da multidão” (Hb 9,28b). “Somos
santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma
vez por todas. De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição,
e para sempre, os que ele santifica” (Hb 10,10.14).
Como, pois, podemos afirmar que a Eucaristia celebrada
continuamente pela Igreja até que o Senhor venha, é o sacrifício de
Cristo? Recordemos, primeiramente, o que já foi dito sobre o
memorial bíblico: este não é somente a recordação ou a repetição
dos acontecimentos do passado, mas a proclamação da ação salvadora
de Deus. Foi assim com a Páscoa dos judeus; assim também com a
Páscoa de Cristo: cada vez que a Igreja celebra a Eucaristia, ela faz
memorial do sacrifício do seu Senhor, isto é, torna-se presente sobre
o Altar, na potência do Espírito Santo, que supera o tempo e o
espaço, o único, irrepetível e eterno sacrifício do Senhor morto e
ressuscitado! Assim, quando a Comunidade eclesial faz memorial da
Páscoa do Cristo e esta se torna presente nos tempos do nosso
tempo, da nossa vida, é o próprio sacrifício do Cristo oferecido
uma vez por todas, sua oferta amorosa e eterna ao Pai, que
permanece sempre presente e atual na nossa vida. Por isso, a Igreja
ensina que toda vez que o sacrifício da cruz, com o qual Cristo,
nosso Cordeiro pascal, foi imolado, é celebrado sobre o Altar,
realiza-se a obra da nossa redenção. No sacrifício eucarístico, Cristo
nos dá o mesmo Corpo que entregou por nós na cruz e o mesmo Sangue
que derramou por todos, para a remissão dos pecados. Assim, a
Eucaristia torna presente (= re-presenta) o sacrifício da cruz,
pois é seu memorial. Eis o ensinamento do Concílio de Trento: “Cristo,
Deus e Senhor nosso, mesmo tendo se imolado a Deus Pai uma só vez
morrendo sobre o altar da cruz para realizar uma redenção eterna,
porque, todavia, o seu sacerdócio não deveria extinguir-se com a
morte (Hb 7,24.27), na última Ceia, na noite em que foi entregue,
ele quis deixar à Igreja, sua amada Esposa, um sacrifício visível,
como exige a natureza humana, com o qual fosse aquele sacrifício cruento
que ele ofereceu uma vez por todas sobre a cruz, prolongando sua
memória até fim do mundo (1Cor 11,23) e aplicando a sua eficácia
salvífica para a remissão dos nossos pecados cotidianos”. Assim, o sacrifício da cruz e o sacrifício da Missa são um único sacrifício. Como ensina ainda o Concílio de Trento: “Trata-se,
com efeito, de uma só e idêntica vítima e o mesmo Jesus se oferece
pelo ministério dos sacerdotes, ele que um dia se ofereceu a si
mesmo na cruz. Neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, está
contido e imolado de modo incruento o mesmo Cristo que se ofereceu
uma só vez de modo cruento no altar da cruz”.
Este sacrifício, oferecido pelo Cristo ao Pai, é também
sacrifício da Igreja, já que esta é Corpo de Cristo, e ele é
Cabeça do Corpo eclesial. Com ele, a Igreja se oferece toda inteira
ao Pai na unidade do Espírito Santo, e se une à eterna intercessão
dele, que é o único mediador entre Deus e os homens. Assim, é toda
a Igreja que é unida à oferta e intercessão de Cristo! E quando eu
digo Igreja, refiro-me à Igreja da terra, que peregrina rumo à
Pátria, à Igreja que se purifica e à Igreja da Glória, com a Virgem e
todos os anjos e santos!
Veremos, no próximo tópico, que a Eucaristia é, também,
banquete, é presença real de Cristo e faz a unidade da Igreja.
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O Sacramento da Eucaristia – VIII |
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Eucaristia
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Seg, 29 de Dezembro de 2008 11:14 |
Já vimos que a Eucaristia é o verdadeiro sacrifício do
Novo Testamento, sacrifício do próprio Cristo, entregue por ele À
sua Esposa, a Igreja, para que o ofereça em celebração até que ele
volte. Veremos agora que a Eucaristia é também banquete: o Altar do
sacrifício é também Mesa sagrada da refeição e da comunhão com o
Senhor e os irmãos!
Antes de tudo, recordemos o Antigo Testamento que, além
dos holocaustos (figuras do sacrifício que Cristo ofereceu e se
torna presente em cada Eucaristia), conhecia também os sacrifícios
de comunhão: aí se oferecia uma parte da vítima no altar e a outra
parte era consumida num banquete pelos fiéis na presença do Senhor.
O significado é belíssimo: faço refeição com o Senhor, à mesma
mesa... Recordemo-nos que, para os orientais, comer à mesma mesa
significa participar da mesma vida, da mesma sorte... significa ser
amigos. Assim, quando os fiéis comiam à mesa do Deus de Israel,
queriam exprimir a união de vida com Ele e com os outros
participantes do banquete sacrifical (cf. Lv 7,11-21; 22,29-30).
Tudo isto era preparação para a comunhão que o Senhor queria
estabelecer conosco, uma comunhão inimaginável, estupenda: ele
próprio daria seu Filho, morto e ressuscitado, pleno do Espírito Santo,
como nosso alimento, como vida de nossa vida!
A Eucaristia, portanto, não somente é sacrifício, mas
também banquete, aquele banquete tantas e tantas vezes anunciado
pelos profetas! É importante insistir no significado do banquete:
os convidados partilhavam a mesma vida (que vem do alimento e da
bebida), por isso, participam da mesma alegria, da mesma
intimidade, da mesma existência: na terra de Jesus só se convidava para
um banquete os amigos! É por isso que o banquete é sinal de
felicidade, de paz e de vida, porque é sinal de comunhão. Isso era
ainda mais verdadeiro e forte no banquete dado pelo rei. Somente os
altos dignitários participavam da mesa do rei. Assim, participar
do banquete real era estar em comunhão com o rei, era ver a face do
rei (que poucos viam no Oriente). Pois bem, tudo isso Deus nos
concedeu na Eucaristia: “Minha carne é verdadeiramente comida e
meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe
o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,55s).
Pensemos agora um pouco: participar do banquete
eucarístico é participar da Vida que o próprio Deus deu ao seu
Filho ao ressuscitá-lo dos mortos. Como não pensar naquelas
palavras de São João? “Deus nos deu a Vida eterna e esta Vida está em seu Filho! Quem tem o Filho, tem a Vida” (1Jo 5,11). É por isso que Jesus diz claramente: “Em
verdade em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do
homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo
6,53). Eis, que mistério tão grande e tão santo! Participar do Pão e
do Vinho eucarísticos é entrar em comunhão de Vida com Aquele que é
Morto e Ressuscitado, com o Cordeiro eternamente imolado por nós!
Participar das Espécies eucarísticas, das Coisas santas, é receber a
própria Vida, aquela que Jesus recebeu na sua ressurreição, aquela
Vida que estava junto do Pai e que nos apareceu (cf. 1Jo 1,2).
Cada participação na Eucaristia é uma transfusão de vida eterna que
recebemos, até que a consumemos na Glória!
Mas, tem mais ainda: comungar no Corpo e no Sangue do
Senhor, Cabeçada Igreja, é entrar em comunhão com os irmãos que
formam a Igreja. Nós somos con-corpóreos uns dos outros e somos
consangüíneos uns com os outros, porque todos temos um só corpo (o
Corpo de Cristo) e temos um só sangue (o Sangue de Cristo). Somos
irmãos carnais, irmãos de sangue, irmãos eucarísticos! Por isso, São
Paulo nos ensina: “O cálice de bênção que abençoamos não é
comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão
com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos,
somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão”
(1Cor 10,16s). Difícil dizer isso com palavras mais bonitas!
No Banquete eucarístico acontece a comunhão entre nós e Cristo e,
por ele, a comunhão entre nós, no único Espírito Santo de Cristo
ressuscitado. Nunca nos esqueçamos que o Pão e o Vinho eucarísticos
foram cristificados pela ação do Espírito do Ressuscitado! É por isso
que a Eucaristia faz a Igreja: neste santo Banquete nos tornamos
sempre mais corpo do Senhor, Igreja do Senhor!
Por tudo isso, é absolutamente incompreensível que
alguém participe da Missa sem comungar! O sacrifício eucarístico
tende para esta comunhão entre nós e o Cristo, que se consuma
quando comungamos! Somente por razões gravíssimas devemos nos abster
da comunhão. Caso contrário, temos a obrigação de amor e de sede de
vida de procurar o sacramento da Penitência e nos reconciliar com
Cristo e a Igreja, de modo a participar plenamente do Banquete
eucarístico! Ninguém vai a um jantar e fica sem comer...
Certamente, há casos em que o mais aconselhável é não receber a
comunhão... Mas aí não é por desleixo ou descaso, mas por coerência
e coragem de quem é maduro para assumir que está em alguma
situação particularmente problemática em relação ao Evangelho. É o caso,
por exemplo, dos que estão unidos em segunda união já sendo
casados na Igreja e o primeiro cônjuge ainda estando vivo. Mas, que
esses irmãos e irmãs não se desesperem: o Senhor também vem a eles
e para eles, pois conhece a sua história e vê o seu coração. É
preciso recordar que, se a Igreja está ligada aos sacramentos, o
Senhor não está: ele é o Senhor dos sacramentos e pode vir com sua
graça de modo desconhecido e inesperado para nós. É bom recordar
também que aqui não se trata de julgar os outros ou dizer que alguém não
é digno de comungar! Quem de nós é digno? Quem ousaria pensar-se
digno do Senhor? A Igreja, ao invés, nos ensina a dizer, antes de
cada comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada!” A regra, no entanto, é clara: o quanto possível, comungar
sempre, em cada Eucaristia da qual participarmos! É o ensaio geral
para o banquete eterno, quando seremos saciados eternamente da
glória de Cristo.
Gostaria de terminar com as palavras emocionantes da Liturgia de São João Crisóstomo:
“Ó Filho de Deus, faz-me hoje participante do teu místico Banquete.
Não entregarei o teu Mistério aos teus inimigos nem te darei o
beijo de Judas. Mas, como o ladrão, eu te digo: Recorda-te de mim,
Senhor, quando estiveres no teu Reino!”
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