Catequese sobre a Igreja - XXIII |
Bento XVI |
Seg, 29 de Dezembro de 2008 19:46 |
Barnabé, Silvano, Apolo
Prosseguindo
a nossa viagem entre os protagonistas das origens cristãs, dedicamos
hoje a nossa atenção a alguns dos outros colaboradores de São Paulo.
Devemos reconhecer que o Apóstolo é um exemplo eloquente de homem
aberto à colaboração: na Igreja ele não quer fazer tudo sozinho, mas
serve-se de numerosos e diversos colegas. Não nos podemos deter sobre
todos estes preciosos colaboradores, porque são muitos. É suficiente
recordar, entre outros, Epafras (cf. Cl 1, 7; 4, 12; Fm 23),
Epafrodito (cf. Fl 2, 25; 4, 18), Tíquio (cf. Act 20, 4; Ef 6, 21; Cl
4, 7; 2 Tm 4, 12; Tt 3, 12), Urbano (cf. Rm 16, 9), Gaio e Aristarco
(cf. Act 19, 29; 20, 4; 27, 2 Cl 4, 10). E mulheres como Febe (cf. Rm
16, 1), Trifena e Trifosa (cf. Rm 16, 12), Pérside, a mãe de Rufo da
qual São Paulo diz: "Também é minha mãe" (cf. Rm 16, 12-13) sem
esquecer casais como Prisca e Aquila (cf. Rm 16, 3; 1 Cor 16, 19; 2 Tm
4, 19). Hoje, entre esta grande multidão de colaboradores e
colaboradoras de São Paulo dirigimos o nosso interesse a estas três
pessoas, que desempenharam um papel particularmente significativo na
evangelização das origens: Barnabé, Silvano e Apolo.
Barnabé
significa "filho da exortação" (Act 4, 36) ou "filho da consolação" e
é sobrenome de um judeu-levita originário de Chipre. Tendo-se
estabelecido em Jerusalém, ele foi um dos primeiros a abraçar o
cristianismo, depois da ressurreição do Senhor. Com grande
generosidade vendeu um campo de sua propriedade entregando a quantia
aos Apóstolos para as necessidades da Igreja (cf. Act 4, 37). Foi ele
quem se fez garante da conversão de Saulo junto da comunidade cristã
de Jerusalém, a qual ainda desconfiava do antigo perseguidor (cf. Act
9, 27). Tendo sido enviado a Antioquia da Síria, foi buscar Paulo a
Tarso, onde se tinha retirado, e transcorreu com ele um ano inteiro,
dedicando-se à evangelização daquela importante cidade, em cuja Igreja
Barnabé era conhecido como profeta e doutor (cf. Act 13, 1). Assim
Barnabé, no momento das primeiras conversões dos pagãos, compreendeu que
tinha chegado a hora de Saulo, o qual se retirara para Tarso, sua
cidade. Foi ali procurá-lo. Assim, naquele momento importante, quase
restituiu Paulo à Igreja; deu-lhe, neste sentido, novamente o Apóstolo
das Nações. Da Igreja antioquena Barnabé foi enviado em missão
juntamente com Paulo, realizando o que classifica como primeira viagem
missionária do Apóstolo. Na realidade, tratou-se de uma viagem
missionária de Barnabé, sendo ele o verdadeiro responsável, ao qual
Paulo se juntou como colaborador, chegando às regiões de Chipre e da
Anatólia centro-meridional, na actual Turquia, com as cidades de
Attalia, Perge, Antioquia de Psídia, Listra e Derbe (cf. Act 13-14).
Juntamente com Paulo foi depois ao chamado Concílio de Jerusalém onde,
depois de um aprofundado exame da questão, os Apóstolos com os Anciãos
decidiram separar a prática da cincuncisão da identidade cristã (cf.
Act 15, 1-35). Só assim, no final, tornaram oficialmente possível a
Igreja dos pagãos, uma Igreja sem circuncisão: somos filhos de Abraão
simplesmente pela fé em Cristo.
Os
dois, Paulo e Barnabé, entraram depois em contraste, no início da
segunda viagem missionária, porque Barnabé tinha em mente assumir como
companheiro João Marcos, mas Paulo não queria, tendo-se separado o
jovem deles durante a viagem anterior (cf. Act 13, 13; 15, 36-40).
Portanto, também entre santos existem contrastes, discórdias,
controvérsias. E isto parece-me muito confortador, porque vemos que os
santos não "caíram do céu". São homens como nós, com problemas também
complicados. A santidade não consiste em nunca ter errado ou pecado. A
santidade cresce na capacidade de conversão, de arrependimento, de
disponibilidade para recomeçar, e sobretudo na capacidade de
reconciliação e de perdão. E assim Paulo, que tinha sido bastante rude e
amargo em relação a Marcos, no final encontra-se com ele. Nas últimas
Cartas de São Paulo, a Filemon e na segunda a Timóteo, precisamente
Marcos aparece como "o meu colaborador". Portanto, não é o facto de
nunca ter errado que nos torna santos, mas a capacidade de
reconciliação e de perdão. E todos podemos aprender este caminho de
santidade. Em todo o caso Barnabé, com João Marcos, partiu para Chipre
(cf. Act 15, 39) por volta do ano 49. Daquele momento em diante
perdem-se os seus vestígios. Tertuliano atribui-lhe a Carta aos
Hebreus, ao que não falta a plausibilidade porque, pertencendo à tribo
de Levi, Barnabé podia ter interesse pelo tema do sacerdócio. E a
Carta aos Hebreus interpreta-nos de modo extraordinário o sacerdócio de
Jesus.
Outro
companheiro de Paulo foi Silas, forma grecizada de um nome hebraico
(talvez sheal, "pedir, invocar", que é a mesma raiz do nome "Saulo"),
do qual resulta também a forma latinizada Silvano. O nome Silas é
confirmado só no Livro dos Actos, enquanto que o nome Silvano se
encontra apenas nas Cartas paulinas. Ele era um judeu de Jerusalém, um
dos primeiros que se fez cristão, e naquela Igreja gozava de grande
estima (cf. Act 15, 22), sendo considerado profeta (cf. Act 15, 32).
Foi encarregado de levar "aos irmãos de Antioquia, Síria e Cilícia"
(Act 15, 23) as decisões tomadas no Concílio de Jerusalém e de as
explicar. Evidentemente ele era considerado capaz de realizar uma
espécie de mediação entre Jerusalém e Antioquia, entre judeus-cristãos
e cristãos de origem pagã, e desta forma servir a unidade da Igreja
na diversidade de ritos e de origens. Quando Paulo se separou de
Barnabé, assumiu precisamente Silas como novo companheiro de viagem
(cf. Act 15, 40). Com Paulo ele alcançou a Macedónia (com as cidades
de Filipos, Tessalónica e Berea), onde permaneceu, enquanto Paulo
prosseguiu para Atenas e depois para Corinto. Silas alcançou-o em
Corinto, onde cooperou na pregação do Evangelho: de facto, na segunda
Carta dirigida por Paulo àquela Igreja, fala-se de "Jesus Cristo,
aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por
Timóteo" (2 Cor 1, 19). Explica-se assim por que é que ele resulta como
co-destinatário, juntamente com Paulo e Timóteo, das duas Cartas aos
Tessalonicenses. Também isto me parece importante. Paulo não age
"sozinho", como indivíduo, mas juntamente com estes colaboradores no
"nós" da Igreja. Este "eu" de Paulo não é um "eu" isolado, mas um "eu"
no "nós" da Igreja, no "nós" da fé apostólica. E Silvano no final é
mencionado também na Primeira Carta de Pedro, na qual se lê: "por
Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos" (5, 12). Assim
vemos também a comunhão dos Apóstolos. Silvano serve Paulo, serve
Pedro, porque a Igreja é uma e o anúncio missionário é único.
O
terceiro companheiro de Paulo, que desejamos recordar, é chamado
Apolo, provável abreviação de Apolónio ou Apolodoro. Mesmo tratando-se
de um nome de tipo pagão, ele era um fervoroso judeu de Alexandria do
Egipto. Lucas no Livro dos Actos define-o "homem eloquente e muito
versado nas Escrituras... cheio de fervor" (18, 24-25). A entrada de
Apolo no cenário da primeira evangelização acontece na cidade de
Éfeso: tinha ido ali para pregar e ali teve a ventura de encontrar o
casal cristãos Priscila e Áquila (cf. Act 18, 26), que o introduziram a
um conhecimento mais completo do "caminho de Deus" (cf. Act 18, 26).
De Éfeso passou para a Acaia alcançando a cidade de Corinto: ali
chegou com o apoio de uma carta dos cristãos de Éfeso, que recomendavam
aos Coríntios que o acolhessem bem (cf. Act 18, 27). Em Corinto, como
escreve Lucas, "pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis;
pois refutava energicamente os judeus, demonstrando pelas Escrituras
que Jesus é o Cristo" (Act 18, 27-28), o Messias. O seu sucesso
naquela cidade teve um aspecto problemático, porque haviam alguns
membros daquela Igreja que em seu nome, arrebatados pelo seu modo de
falar, se opunham aos outros (cf. 1 Cor 1, 12; 3, 4-6; 4, 6). Paulo na
Primeira Carta aos Coríntios expressa apreço pela obra de Apolo, mas
reprova os Coríntios por dilacerarem o Corpo de Cristo dividindo-se
assim em fracções contrapostas. Ele tira um importante ensinamento de
toda a vicissitude: quer eu quer Apolo diz ele mais não somos do que
diakonoi, isto é, simples ministros, através dos quais alcançastes a
fé (cf. 1 Cor 3, 5). Cada um tem uma tarefa diferenciada no campo do
Senhor: "Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o
crescimento... Pois, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois a
seara de Deus, o edifício de Deus" (1 Cor 3, 6-9). Tendo regressado a
Éfeso, Apolo resistiu ao convite de Paulo para voltar imediatamente a
Corinto, adiando a viagem para uma data posterior por nós desconhecida
(cf. 1 Cor 16, 12). Não temos outras notícias suas, mesmo se alguns
estudiosos pensam nele como possível autor da Carta aos Hebreus, da
qual, segundo Tertuliano, seria autor Barnabé.
Estes
três homens brilham no firmamento das testemunhas do Evangelho por um
aspecto comum além das características próprias de cada um. Em comum,
além da origem judaica, têm a dedicação a Jesus Cristo e ao
Evangelho, juntamente com o facto de os três terem sido colaboradores
do apóstolo Paulo. Nesta original missão evangelizadora eles
encontraram o sentido da sua vida, e como tais estão diante de nós
como modelos luminosos de abnegação e de generosidade. E, no final,
voltemos mais uma vez a esta frase de São Paulo: tanto eu como Apolo
somos ministros de Jesus, cada um a seu modo, porque é Deus que faz
crescer. Esta palavra também é válida hoje para todos, quer para o
Papa, quer para os Cardeais, os Bispos, os sacerdotes, os leigos.
Todos somos humildes ministros de Jesus. Servimos o Evangelho na
medida do possível, segundo os nossos dons, e rezamos a Deus para que
faça crescer hoje o seu Evangelho, a sua Igreja.
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